Por que a gente não se entende


Luciene Godoy e Valéria Belém
Freud disse que a realidade humana é a realidade psíquica. O mundo é o que vemos com o cérebro e não o que está lá, se oferecendo como um objeto “idêntico” para todos os olhares. Podemos, pensando assim, dizer que vivemos em um mundo psi – um mundo onde o que define as relações é o que está na cabeça de cada ser humano – a interpretação que damos acerca de tudo.
Onde mais aparece esta condição do humano é na linguagem, “a-língua” para Lacan – uma não-língua que cada um de nós fala. Língua única. Como nos comunicar a partir disso?
Você fala alemão. Sua mãe, russo. Seu namorado, mandarim. E sua melhor amiga? Se comunica em árabe. Parece coisa de maluco, não é? Imagine estar rodeada por todos esses falantes e vários outros que transitam em sua vida. O que você ainda não percebeu é que essa verdadeira torre de Babel faz parte do seu cotidiano desde sempre.
Por meio da linguagem tentamos (observe bem, tentamos) nos comunicar, ou melhor, dizer algo de nós ao outro. Mas o que dizemos, realmente? O que o outro ouve? Se uma amiga conta a você que fez um corte chanel recentemente, você logo imagina um cabelo pouco acima do ombro, clássico, reto, bonito. E ponto final. Afinal de contas, um corte de cabelo é apenas um corte de cabelo…
Nananinanão! Na verdade, o que sua amiga diz é muito mais que isso. Quando pequena, esse era o corte que a mãe dela a fazia ter. Por isso, na adolescência e no início da fase adulta, ela odiava lembrar do tal cabelo chanel. Detestava as fotos da infância. Queria independência, levar na cabeça outras formas e ideias que não as maternas. “Corte chanel” nessa época era quase uma ofensa. Eca!
Porém, agora adulta, já ciente de seu espaço no mundo, ela não precisa mais rejeitar o corte chanel para se impor. Aliás, conseguiu até perceber que o corte lhe favorece. Pronto, ao dizer a você que cortou o cabelo ao estilo chanel, disse também que ganhou autonomia e se empoderou. Nossa, uma simples palavra pode significar tudo isso? Pode. E mais. Mas Será que é por isso que a comunicação entre seres humanos é tão complicada?
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Originalmente publicado na Revista Zelo, na edição de julho de 2016

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