Parentalidade, ser pai e mãe hoje


Mother and Child (Kitagawa Utamaro, 1793) - www.metmuseum.org
Mother and Child (Kitagawa Utamaro, 1793) – www.metmuseum.org

Luciene Godoy //
Será que já nos demos conta de que nos mudamos do planeta “Terra 1” e hoje vivemos no “Terra 2”?
Tudo mudou de forma incontrolável, diz o psicanalista Jorge Forbes, que nos define hoje como seres desbussolados, pois a maneira de se nascer, crescer, se casar, estudar, trabalhar, se aposentar não é mais a mesma.
Aviso aos navegantes: a ciência também não é mais aquela que desde o século 17 afirmava que “a missão da ciência é conseguir conhecimento que pode ser usado para dominar e controlar a natureza”. Já não temos mais essa certeza, uma vez que hoje é a própria ciência que ameaça o planeta com suas descobertas com poderes tanto construtivos quanto destrutivos.
Cientistas da Nova Biologia, como Bruce H. Lipton, acreditam que é o ser humano que necessita entender como nós podemos nos incorporar à comunidade que chamamos de Natureza. Não para dominar, mas para participar e nos perpetuar. Criar filhos tem tudo a ver com isso.
Não se trata de uma relação de inimizade, de necessidade de se subjugar ao outro lado a fim de que o melhor aconteça, mas sim de uma busca de convivência entre partes distintas que podem se complementar e se enriquecer.
Desde a revelação, com a conclusão do projeto Genoma Humano em 2001, de que não temos os 140 mil genes que eram esperados, mas apenas 34 mil, descobriu-se também que as múltiplas informações que fazem com que sejamos como somos, do ponto de vista biológico e comportamental, têm muito mais a ver com as relações que mantemos com o ambiente do que com nossa genética.
Foi, então, criada a epigenética, que é a parte da genética que estuda as influências do meio ambiente sobre nosso gene.
A corrente do determinismo genético pregava que éramos constituídos e limitados pelos nossos genes, passados pelo óvulo da mãe e pelo espermatozoide do pai na concepção.
A Nova Biologia da qual a epigenética faz parte vai na contramão dessas afirmativas dizendo que o ambiente é que funciona como um interruptor que aciona ou neutraliza o que nos faz “ser como somos”.
Grande surpresa! O que nos controla são nossas crenças, nossas atitudes, emoções e percepções.
Parentalidade é o estado ou condição de quem é pai ou mãe. De que forma se daria ser pai ou mãe dentro de valores como esses?
Os pais de hoje, que não são mais os donos da verdade nem aqueles que “sempre sabiam o que era melhor para os filhos”, podem crescer e aprender a serem pais junto com filhos que estão aprendendo a crescer.
Valéria, mãe de Sofia, uma adolescente que de repente se vê gravando suas músicas prediletas da aula de canto em um estúdio de verdade. Presente da mãe e presença da mãe, que enxergou o peso e o valor que aquele acontecimento poderia trazer à filha E emoção total! Amigos e parentes embasbacados ao ouvirem a doce voz, um dia antes desconhecida e que de repente surge no meio de todos. Mãe que ajuda a filha a se descobrir, a corajosamente ir atrás do que quer. Que se expõe e cria o inesperado e depois curte os efeitos deliciosos.
Janaína, que, na mesa do café da manhã, ao folhear os desenhos do filho Pietro, de 8 anos, tomada de emoção resolve lhe fazer uma surpresa: enquanto o garoto ainda dorme, prepara uma “exposição íntima”, colando lindamente os desenhos na parede da sala. Quando o pequeno se levanta é recebido pelos pais com um café da manhã especial – feito no último momento – e ovacionado pela pequena família que no íntimo da convivência doméstica saúda a beleza produzida pelo filho. Filho esse que depois disso não mais se verá da mesma forma.
Pais que estão juntos com os filhos, aprendendo a serem pais e mães, se deixando emocionar pelos seus feitos e conquistas.
Ser pai e mãe é um way of life, é o nosso estilo de vida, é como vivemos em nossa verdade. A genética tem menos poder do que supúnhamos. As nossas relações com nossos filhos, essas, sim, criam a sua maneira de ser.

Artigo originalmente publicado na coluna Divã do Popular, do jornal O Popular, de Goiânia (GO), em 9 de julho de 2015.


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