O pai: uma nova mãe

The Natchez - Eugene Delacroix - 1835 - www.metmuseum.org
The Natchez (Eugène Delacroix, 1835) – www.metmuseum.org

Luciene Godoy //

Em maio, proferi uma palestra em São Paulo com o título de A Nova Mãe. Porém, a primeira imagem que projetei na tela foi a de um homem com um bebezinho bem no meio de seu peito firmemente atado por uma faixa – conhecida como sling – que dava o formato de um ninho.

“Cadê a mãe?”, lia eu nos olhos surpresos do auditório. “Aqui está a nova mãe’, disse.

Por que está havendo essa mudança? Afinal, desde os primórdios, a mulher vem cuidando da prole; o homem, primeiro, saiu para caçar e buscar sustento para o grupo familiar, em um mundo onde a força física era determinante. Depois, quando a fábrica dominou as relações sociais, o homem foi conclamado a sair de casa e de novo buscar – não na natureza, mas nos escritórios e nos galpões de produção – o sustento para os seus que esperavam em casa pelo pão de cada dia.

O que mudou afinal?

Desde a Segunda Guerra Mundial, as mulheres saíram de casa para substituir os maridos e, como sabemos, nunca mais deixaram esse lugar.

Hoje, cada vez mais, na busca da competência e da eficácia no trabalho, o que conta não é o sexo, mas o resultado.

Porém, se as mulheres estão no mundo como profissionais, quem cuidará das crianças? Babás e vovós? Mais atual falar de creches (não só para operárias, mas também para mães com salários altos) e de escolas infantis que começam tão cedo.

Esse fenômeno criou uma expressão irônica: as mães estão “terceirizando” a criação dos filhos. Não necessariamente. É claro, sempre houve mães de faz-de-conta “totalmente” devotadas ao lar e aos filhos, que nunca estiveram lá. Assim como tem as que ficam muito tempo fora ou muito tempo dentro de casa, sempre vão existir também mulheres que não dão conta de serem mães, confessem isso ou não.

A boa notícia é que existe uma nova mãe no mundo: o pai.

Nas aulas que ministro no curso de gestantes da Unimed Goiânia, os pais têm tido participação destacada. Vejo seus olhos brilhantes e cheios de interesse quando falo da necessidade que o bebê tem de não perder abruptamente o corpo da mãe.

Os pais fazem perguntas, acenam a cabeça com convicção e fazem comentários. No final, vêm mães e pais querendo adquirir uma bolsinha canguru para cada um deles. E são eles, muitas vezes, que pedem para colocar para “ver como é que é”.

Se vamos a um restaurante, vemos pais sorridentes deixando seu bebê usufruir do seu gostoso e forte colo, fazendo do corpo do pai o seu parque de diversões.

Cada vez mais os pais se tornam mães. E o fazem com gosto e com interesse. Não é só porque hoje é difícil manter uma babá. Trata-se de uma conquista histórico-social: assim como às mulheres está dada a condição para viver papéis antes só masculinos, ao homem também está sendo franqueada a entrada no mundo feminino em vários setores, inclusive o da maternidade, que nesse caso chamamos de maternagem – o cuidado que se dá ao bebê em seu estado de dependência, campo antes restrito só as mulheres.

Poderíamos até inventar um slogan: maternidade para todos.

Sim, a maternagem é, hoje e cada vez mais, um trabalho em conjunto. Não há mais mulheres só mães. Elas se multiplicam em muitos lugares no mundo e por isso podemos também – e por que não? – termos mais mães para além das mulheres?

Todos temos colo, temos pele, abraço, sorriso e presença para trocar com nossos pequenos. Útero-gestação, parto e amamentação só com as mães-mulheres. Extero-gestação e todas as demais necessidades do bebê podem ser compartilhadas com muitos: vovó, vovô, padrinho, madrinha, amigos, parentes… com quem quiser entrar na roda e usufruir da imensa energia de vida que uma criança traz para quem tem a competência de conviver com ela de corpo presente.

Parabéns aos papais-mamães de 2015!


Artigo originalmente publicado no jornal O Popular, de Goiânia, em 6 de julho de 2015.

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