Luciene Godoy
Frasezinha que costuma produzir horror nos homens! Senão horror pelos menos enfado, desalento, fuga.
É claro que existem razões para tal comportamento. Vamos examinar algumas.
Na origem de nossa sociedade capitalista houve uma divisão de funções. O homem saiu para o mundo para buscar mudar sua condição de vida. À mulher foi dado o cuidado do lar e da família burguesa. A um foi dado o espaço público e à outra o privado.
Um distanciamento se deu. O homem foi usufruindo o poder que suas conquistas lhe conferiam, enquanto a mulher se mantinha confinada a uma vida doméstica em que dependia do que o marido lhe desse ou lhe permitisse. Os privilégios que os homens acabaram por ter foram, em princípio, devido a esta divisão e não simplesmente pelo fato de serem homens.
Então, voltando ao “discutir a relação”. A mulher como o gênero de menos valor numa sociedade patriarcal tenderá a dirigir-se ao homem como o que detém os privilégios, o que é forte e “tem que ouvir suas queixas”. Isso pode se tornar muito conflitivo porque o homem pouco sabe do privado, do afetivo. Ele foi constituído em termos culturais para outro mundo, para outra coisa, não para falar de suas falhas e imperfeições. Quando a mulher lhe pede isto ele foge porque não sabe como fazê-lo, não é sua área. E provavelmente nem se sente tão forte e privilegiado, já que a ele são feitas muitas exigências para viver o seu papel de homem. Quer dizer, vida de homem também não é fácil não, só que de maneira diferente da nossa!!
Não é que só o homem tenha que mudar. Todos temos!
A sociedade é imperfeita, é injusta.
Hoje, que estamos nos libertando dos papéis e dos padrões, em que vivemos a possibilidade de sermos respeitados em nossas diferenças, vamos, sim, tentar discutir, conversar, esclarecer. Já que não podemos ainda ler os pensamentos do outro… Temos a conversa!
Vamos sair da cobrança (infelizmente, muitas vezes travestida de “discussão da relação”) e do ressentimento. Não há culpados, há o movimento da história. Estamos em mais um momento de ultrapassagem de fatos históricos que nos determinaram de uma forma, mas que podemos, com o tempo, fazer de outra.
Façamos, portanto, uma aposta na possibilidade do encontro, da comunhão com o nosso amor, mesmo que não seja um eterno encontro, mesmo que sejam momentos, mesmo que sejam fugidios e parciais.
Se não almejarmos a plenitude, muito ainda nos resta para vivermos prazerosamente!
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Artigo originalmente publicado no jornal O Popular, em 2 de dezembro de 2010.