O céu e o inferno estão aqui mesmo

Campo de trigo com corvos (Vincent Van Gogh, 1890)

Na minha infância, ouvi essa frase muitas, muitas vezes mesmo. O suficiente para não esquecê-la jamais.

Ela era frequentemente seguida da “aqui se faz aqui se paga”. Ou outra do gênero: “colhemos o que plantamos”.

Achava, então, que o sofrimento era o resultado de nossos atos: “plantando vento e colhendo tempestade”, e por aí vai.

Passei uma vida pensando dessa forma. E veja bem, não discordo nem um pouco dessas máximas, mas depois, a psicanálise me permitiu vislumbrar mais uma do mesmo gênero, mas que vai mais fundo, acho eu.

No lugar de o céu e o inferno estão aqui mesmo, ao nosso redor, resultado do que plantamos , coloquei: o céu e o inferno estão dentro de nossa cabeça e são aquilo que pensamos de nós mesmos.

Agora costumo dizer que estamos no céu quando aprovamos o que fazemos ou que entramos no inferno no exato momento em que nos desaprovamos.

Simples assim?

É.

Faça o teste.

Tente se elogiar nas pequenas coisas que sejam que você conseguiu fazer, aquela roupa que ficou bem, o churrasco delicioso para os amigos, o presente acertado para o namorado… E se você evoluir, em pouco tempo vai estar dizendo que você se adora pelo banho gostoso que tomou e colocou aquele perfume que te deixa nas nuvens.

Qualquer “bobagem” pode se tornar um alimento para a sua alma, sua estima própria. Eu digo: não desperdice nada, use tudo ao seu redor, recicle.

Dia desses me peguei lembrando de um almoço maravilhoso que fiz aos dezesseis anos de idade para uma vizinha em desespero ao receber visitas inesperadas e me deliciei com minha jovem competência de cozinheira. Isso quase quarenta anos depois. Olha eu colhendo frutos de meu apreço por algo que consegui fazer no passado e que me rende orgulho até hoje!

Somos capazes de tanta coisa. No nosso dia a dia corrido fazemos tanto e achamos que estamos sempre errando, sempre em falta. Sacos sem fundo, achando que nada é suficiente para a gente aprovar a gente mesmo.

Faço aqui uma convocação! Tente daqui para frente dirigir o seu olhar para o que gosta em você mesmo, seja benevolente, aprovador. Isso vai fazer com que viva bem com quem você é. Tem riqueza maior do que esta?

Podemos, mais do que se pensa, determinar o nosso estado de espírito, se conseguirmos dar mais valor as pequenas coisas que acertamos e conseguimos no dia a dia.

De novo, eu digo, faça o teste. E venha viver mais tempo no céu do que no inferno.


Artigo originalmente publicado no jornal O Popular em 18 de agosto de 2011.

Este post tem 2 comentários

  1. Oi Luciana, aqui é a Suellem, falei com voce ao telefone hoje mais cedo sobre o grupo de estudo e vim então conhecer o seu site. Aos poucos vou lendo todos os artigo e confesso que estou adorando-os. Esse em especial gostei muito, talvez pelas experiencias que vivi este me tenha chamando mais a atenção. Abraço.

Deixe um comentário