Só precisamos de amor

 

Luciene Godoy

All we need is love.
(The Beatles)

“Tudo que necessitamos é de amor.” Eles dizem, eu assino em baixo!

Repito o que já disse antes: o amor para a psicanálise é um laço. É a relação que construímos com algo ou com alguém. É a história que desenvolvemos ao longo de uma caminhada com suas dificuldades e seus ganhos.

A sociedade de consumo nos desvia desse caminho nos incitando a comprar e comprar; consumir e consumir; pular do recém-adquirido para o próximo. Assim não criamos laços, não usufruímos do melhor que qualquer objeto tem a nos oferecer: o tempo que passamos, que gastamos com ele.

O tempo é uma preciosidade…

Porém, se compro um objeto qualquer já pensando no próximo, não passo nenhum tempo com ele, sabe, assim como acontece com aqueles livros que demoramos lendo, a cada dia saindo de nossa vida cotidiana e entrando na história do livro. Com o tempo e por causa dele, aprendemos a conhecer e ter sentimentos por cada personagem.

Se não houver tempo junto, então eu não vivi com aquele objeto e ele passou por mim, mas não me pertenceu!

O que estou chamando de tempo junto não é carregar sempre o objeto no bolso ou estar sempre com ele por perto. É, isto sim, permanecer com seu desejo pousado sobre ele, contornando-o, degustando-o, como um sorvete que lambemos até o último pingo. É o usufruto, o descobrir todas as possibilidades, todas as “novas posições” para curti-lo antes de, na sua mente, já jogá-lo no lixo, pensando incessantemente no outro sem nem mesmo ter descoberto o que teve. Triste destino… muito desperdício… pouco prazer…

Ao invés de ter tudo, como muitos comerciais nos convencem ser o desejável, adquirimos muito, mas não usufruímos.

Na fúria consumista para tudo ter, acabamos nada tendo a não ser o vazio das tentativas vãs.

Vivemos no vazio, sem uma vida significativa porque sem amor, sempre olhando o que não temos e querendo mais, sem saber o que fazer do que já possuímos, sem dar conta de usufruir.

O que torna um objeto valioso é o envolvimento, o tempo que se passa com ele. É o que cria a intensidade!

O amor é o maior e mais lindo acontecimento da vida! O mais importante também!

Só posso concordar com a música dos Beatles, que também poderia ser traduzida assim: “Só precisamos de amor”.

Amar o que temos já é um bom começo.


Artigo originalmente publicado no jornal O Popular em 17 de março de 2011.

Este post tem um comentário

  1. luciana abreu

    Ah… o amor!O encontro…O caminhar!
    Quando vc disse do amor como um acontecimento excepcional,pensei nele como um encontro no qual comparece o “não ser” instigando o “vir-a-ser” desconhecido.Encontro que produz encantos e desencantos reveladores, constitutivos.
    Hiii…depois continuo a viagem…rs.

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