Tenho insistido em uma frase que diz que só continuamos a amar o que confirma e enriquece o nosso eu. Daí a questão de tantas pessoas que vivem juntas, que se encontraram pela vida, reclamarem que “no começo” a relação era tão maravilhosa e depois virou “rotina”.
Questiono os termos “no começo” e “rotina”. Questiono a própria explicação do fato do amor mudar.
Engraçado é que a mudança é sempre para o mesmo lado: o que era melhor, com a passagem do tempo, piorou.
Não só o desenrolar da situação, mas até mesmo as explicações são padronizadas. Por isso questiono o termo “no começo”. Porque é um erro interpretativo achar que o começo é que é gostoso.
Discordo dessa ideia! Gostoso é o novo.
Ih! Agora consegui piorar a situação dizendo que o novo é que é bom. Então isso não seria o mesmo que dizer “no começo”? Um não seria sinônimo do outro?
Muita gente apostaria que sim, que começo e novo são a mesma coisa. Mas novo é cada momento da vida.O seu último dia de vida poderá ser um novo dia, vivido como tal se você não estiver artificialmente agarrado em alguma coisa do passado ou do futuro.
O começo das relações costuma ser gostoso porque, durante certo período, funcionamos acreditando e vendo tudo novo. Quando vence o prazo de validade do olhar límpido que enxerga o presente, começamos a olhar esse mesmo presente com os olhos cheios de fantasmas que trazemos dos acontecimentos de nossas histórias e de nossas interpretações de sempre.
A partir desse momento, começamos a viver uma relação virtual. Não vemos mais aquela pessoa incrível que mudou nossa vida – por um tempo, lembrem-se.
Uma das maneiras que isso aparece é quando, imaginem só, as nossas qualidades antes tão elogiadas começam a virar defeitos. Você era tão expansiva e alegre agora virou uma maritaca faladeira. Você que era um cara circunspecto e tão charmoso em sua compenetração, virou um morcego emburrado.
A mulher independente e capaz agora incomoda o homem que se sente “desrespeitado” pela sua audácia e atitude proativa. O homem carinhoso e presente vira um bobo à mão, sempre oferecendo o que o outro não pediu.
Mudem os gêneros, troquem os lados, multipliquem as situações e verão que isso estrutura os casamentos. Esse é o caminho que eles seguem. Saindo do começo feliz, passando pelo “desgaste” – outra palavrinha gasta para expressar o que acontece – e chegando até a separação final. Que seja diante do juiz ou num dia a dia sem cor e sem sabor.
Falando nisso, voltemos à expressão “rotina”, que é outro termo que de tanto uso virou um trapinho que não explica mais nada para as pessoas mais atentas.
Rotina não tem que ser repetição.
Gente, acorda! Rotina nada mais é do que um dia novo após o outro.
Rotina não é repetição.
Rotina é renovação.
É a possibilidade de viver e fazer de forma diferente, a cada dia, as mesmas coisas. Ou coisas novas. Porque, simplesmente, um dia não tem como ser igual ao outro. Só se a gente disser que é e ficar se convencendo disso, mas, a rigor, o dia que nasce é sempre novo. Você só vai ao trabalho pelo mesmo caminho e faz tudo “igual” – entre aspas mesmo porque não dá para fazer nada igual – se quiser crer nisso. A rua não é a mesma de ontem, nem as pessoas, nem a música que toca no rádio, seus pensamentos agradáveis hoje eram tristes ontem e por aí vai…
Podemos fazer aparentemente as mesmas coisas, mas nosso universo interno, nossos pensamentos e sentimentos nos fazem sentir que aquele momento e aquele dia é único.
Rotina não existe, acredite se quiser. Cada dia que nasce é novinho em folha para ser vivido conforme sua escolha de estar presente.
O presente que a vida nos dá é o presente! Viva-o ou viva morto.
Luciene, que aprendizado!