A (falsa) modéstia e suas consequências danosas

Mulher ao espelho (Pablo Picasso, 1939)

Luciene Godoy*

Efetivamente, é difícil pensar na modéstia como um provocador de malefícios, afinal somos educados desde pequenos ouvindo falar que é muito feio ser uma pessoa “metida, arrogante”.

Acho, por isso mesmo, delicado e muito difícil propor uma nova forma de ver o referido valor, afinal ele é, indiscutivelmente, bastante aceito e defendido por muitos.

Meu argumento é outro. Vocês já pararam para observar que é muito comum alguém ao nosso redor, ou nós mesmos (quando conseguimos nos enxergar um pouquinho que seja!) recebermos algum elogio e automática e rapidamente respondermos – “Ah! Imagina! Isso não é nada!” ou outras do gênero?

Por outro lado, o psicanalista Jorge Forbes nos convida a “sustentarmos as nossas qualidades”. É que ele afirma que na neurose o sujeito não quer se responsabilizar por nada, nem mesmo por sustentar algo elogiável que tenha conseguido fazer. Tem medo de ser cobrado pelo outro a ser cada vez mais, cada vez melhor. Portanto vê no ato de aceitar o elogio uma ameaça de predação.

Bem, mas qual o problema? Onde estão as tais conseqüências maléficas que ninguém vê?  Parece que nesse mundo narcisista de hoje todo mundo é muito é vaidoso e só quer saber de receber elogios!

Ah Eh?!! Então repare melhor e você vai ver que não é bem assim o que realmente acontece. Todo mundo quer receber o elogio, mas não o aceita abertamente, com o prazer do qual, na verdade, poderia usufruir.

Mas ainda não chegamos às conseqüências danosas.

Vamos a elas!

O psiquismo humano tem o seguinte funcionamento: o que não é reconhecido não existe.

Agora já deu prá perceber, não é? É isso. Se não recebermos reconhecidamente o elogio, isto é, a confirmação de nossas qualidades, elas, de fato, não vão existir para nós, e, por isso, estaremos literalmente jogando fora todos os nossos esforços para alcançarmos uma vida mais qualificada. É por causa dessa forma de agir que o sujeito acorda nu e pobre todas as manhãs.  Como no  mito de Sísifo carregando a pedra montanha acima e lá em cima ela rolando para baixo. Na manhã seguinte recomeça o trabalho inglório. É exatamente da mesma coisa que estou falando.

Sustentar as nossas qualidades nos tira da pobreza emocional, de ficar o tempo todo querendo gostar de si, ser valorizado e ao mesmo tempo desconstruindo as possibilidades de que isso aconteça.

A escolha é sua!!

Vai continuar na (falsa) modéstia ou vai arriscar tomar posse das qualidades que você luta constantemente para ter?


Artigo publicado originalmente no jornal O Popular, em 2 de setembro de 2010.

Este post tem 2 comentários

  1. Marilda

    Muito bom mesmo este texto. Vou entrar sempre para ler seus artigos. Beijos!!!

  2. Juliano Magoga

    Otimo texto, muito bom mesmo, parabéns.

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