A Copa do Mundo é uma festa de muitas coisas. Festa de cores, de alegria, de expectativas, de garra, de nacionalidades e muitos outro itens.
Tem um item que permeia tudo o que diz respeito ao evento e que se encontra nas bases de encontros humanos como o da Copa. Algo que é a estrutura que sustenta a existência, o valor e a permanência de tal costume.
A Copa do Mundo é uma oportunidade riquíssima de permitir ao ser humano gozar, confirmar sua existência na comparação com o outro e se unir aos “seus”, que se deslocam do mundo todo para estarem juntos num determinado lugar cantando, compartilhando, gritando que são parecidos, que estão do mesmo lado – enfim, que são irmãos em alguma coisa.
Sentir-se incluído, parte de um todo, seja um grupo religioso, social ou intelectual, é um dos maiores prazeres que o ser humano pode experimentar.
Podemos, pois, obter nossas carteiras de identidade – condição para que existamos – de muitas e diversas maneiras. Amigos que nos reconhecem e dizem o que somos: generosos, irritados, preocupados, amorosos… A lista é infinita. Mas estamos nós sempre sendo situados pelas falas dos amigos.
Dos inimigos também. Não se esqueça que os inimigos também dizem ao mundo que somos isso ou aquilo – e é por isso que se tornam tão importantes para nós, por nos exporem perante todos.
Dá medo de nos jogarmos ao público, nos expormos, porque sabemos que tem muito vampiro por aí pronto para adulterar o que mostramos e dizer que somos o que não somos. Estamos nas mãos do outro, sim.
Ora, se dizemos que identidade são os nossos caracteres próprios e exclusivos, como é essa história de confirmar o que nós somos nas circunstancias externas?
Assim é.
E o que a Copa do Mundo tem a ver com identidade?
Tudo! Tanto que proponho uma mudança de nome para “Copa das Identidades” porque o que atrai os torcedores é a grande possibilidade de prazer gerado pelas “surpresas” dos jogos. Prazer que vai ser milhares de vezes – milhões, se pensarmos na televisão – multiplicado pela alegria dos “meus iguais”. É o prazer do pertencimento, da inclusão, de poder se encontrar com o outro em algo que nos una. É, sim, algo do sentimento oceânico de participar de um todo e ser algo ali que fica muito grande.
Existe a identificação ao “seu” time, aos jogadores nas pernas dos quais o torcedor joga. O gol é de todo aquele que estava colado na cena. E tudo isso sem pormos em risco nossa querida identidade. Não somos nós que estamos lá correndo os riscos: quando o outro erra, não é com a gente; a vitória, porém, é de todo mundo.
Esse pertencimento gigantesco nos leva de novo – como, aliás, tudo o que gera união – à sensação de vida intrauterina antes da separação.
Olhar para o rosto do lado e no sorriso que esboça sentir que ele está sentindo “o mesmo” que você, que vocês estão na mesma onda, e um momento de glória, um momento de júbilo e êxtase como se nos tornássemos todos aqueles corpos que se levantam ao mesmo tempo gritando “gooool”. Nós voamos nas asas de todos eles.
É um prazer indizível. Daí vem o valor de um encontro humano vultoso como esse que hoje abrigamos em nosso País e que, aliás, faz com que tenhamos muito mais o sentimento de sermos “nós, os brasileiros” que recebemos o mundo para jogar em “nossa casa”.
E isso mesmo considerando os que não se unem porque discordam desta ou daquela política, do que foi feito com o dinheiro para aquilo, pessoas que dizem: “Isso não me pertence, não faço parte da Copa”.
Ainda assim, sempre que algo fica bonito, dá certo ou é elogiável, brota um sorrisinho satisfeito se reconhecendo naquilo.
Puxa vida! Que grande verdade. Somos brasileiros, fazemos parte desse todo chamado “Brasil”, sentimos com emoção quando nossos irmãos estão dando duro lá no campo para nos representar.
É isso aí, vamos torcer para os nossos. Vamos Brasil!