Sexo e preliminares

Jupiter e Calisto (Peter Paul Rubens, 1613)
Jupiter e Calisto (Peter Paul Rubens, 1613)

Luciene Godoy

Preliminares é o que antecede, o que cria as condições para que algo venha a acontecer.

Muita gente vai dizer que sexo bom só acontece com preliminares ou até que as preliminares são a melhor parte.

Nem precisa explicar preliminares de que porque “as preliminares” são sempre para o sexo e se tratam de beijos, abraços, carinhos e toques. São consideradas coisas muito preciosas, imprescindíveis para muitos(as) e prova de competência na cama para outros.

Mas, será que existem preliminares que não se encontram no que se passa imediatamente antes do sexo? Existem preliminares mais distantes, mais sutis?

Sabemos que sim. Por exemplo, quando recém-conhecemos alguém, as tais preliminares se estendem um pouco mais longe e incluem um jantar romântico, conversa olhos nos olhos, pequenos presentes e cuidados.

É, mas esse tipo de comportamento desaparece assim que obtemos a certeza da aceitação do outro. Não é preciso tanto ritual, tanta construção de caminhos para se chegar lá. Aí, na melhor das hipóteses, “restam” as preliminares na cama mesmo. E olhe, na melhor das hipóteses, porque o que acontece mesmo é não ter essa trabalheira toda, essa complicação – já que o bom mesmo está no final, não é mesmo?

Vou ainda mais longe: chamo de preliminares a tudo o que acontece entre um casal que vai, gotinha por gotinha, aumentando ou diminuindo o nosso desejo pelo outro. O nosso charme ou mau humor para lidar com as pequenas coisas da vida. Nada tira mais o desejo do que ficar assistindo a espetáculos de um adulto infantil convivendo conosco sem saber lidar com os desafios do dia a dia com a desenvoltura, as habilidades, as capacidades de um adulto.

Aquelas mulheres dependentes, inseguras, demandantes. Aqueles homens ciumentos, irritados, grosseiros.

Aí está a receita antitesão.

Nossa maneira de existir no cotidiano diminui o desejo do outro. Disso todo mundo sabe. O que eu acho que seria mais incomum e convido a todos para pensar é em como aumentar o desejo do outro pela gente, nessa convivência cotidiana, sem a ajuda da novidade, da insegurança da conquista.

Taí a primeira dica: pense e viva a sua relação com o gostinho da vida que se renova a cada dia, assim o item novidade fica contemplado! Não acredite na segurança ilusória de “ter” alguém, viva o clima da conquista, que é marca de quem se valoriza.

E quem se valoriza permanece sendo desejado porque faz por onde. A pessoa é para si e não para o outro e isso é o máximo da sedução!


Artigo originalmente publicado no jornal O Popular em 17 de novembro de 2011.

Este post tem um comentário

  1. E por falar em sedução, no quadro acima o pintor flamengo Rubens revela a estratégia de Júpiter (Zeus na mitologia grega) para se aproximar da ninfa Calisto, seu objeto de desejo. Ele assume a forma da deusa Diana (Ártemis) e, passando-se por ela, seduz a bela jovem. Da relação entre Zeus e Calisto, nasce Arcas, o caçador. O comportamento de Zeus (recorrente, por sinal) desperta o ciúme de sua esposa Hera, a deusa do casamento. Como castigo pela traição, ela transforma Calisto num urso. Calisto suplica por piedade, mas só recebe a indiferença dos deuses – Zeus, entre eles. Quando mãe e filho (urso e caçador, portanto) se encontram no bosque, a tragédia se anuncia. Só então Zeus intercede: transforma os dois em constelações – Ursa Maior e Ursa Menor.

    Ao lado da religião e da história, a mitologia é um dos principais temas da obra de Rubens. Em “Júpiter e Calisto”, é possível notar outras características marcantes, como o destaque à cor e ao movimento. O fundo negro (onde se insinua um enorme pássaro, “animal de estimação” de Zeus) contrasta com os corpos iluminados em primeiro plano, num jogo de luz e sombra. Esses elementos compõem uma cena sensual, e não à toa Rubens é considerado o pintor barroco da sensualidade; daí a sua escolha, inclusive, para ilustrar esse artigo.

Deixe um comentário