Somos todos bisexuais?

 

A Virgem (Gustav Klimt, 1913)

Luciene Godoy

É verdade que Freud diz que somos todos bisexuais?

É verdade. Ele diz que de origem, sim. Só depois fazemos nossa escolha de objeto (feminino ou masculino) e nos posicionamos também diante desta escolha como homem ou mulher.

Estranho não é? Nascemos com a possibilidade dos dois sexos –  não biológica, é claro, mas simbólica.

É, mas estranho mesmo, e muito mais complicado, é o que diz Lacan: somos não bi, mas multisexuais. O que quer dizer que qualquer objeto para o ser humano pode estar no lugar do gozo sexual.

Uma pessoa enlouquecida para ganhar dinheiro pode, e muito frequentemente o faz, nem se interessar por sexo propriamente genital, porque na verdade, já está “transando” com o dinheiro.

Transamos com o comer, o beber, o consumir, o saber, o ter, o poder… a lista é infinita.

Não se iluda, podemos gostar mais de homem ou de mulher, mas a nossa sexualidade (a capacidade de sentir prazer) vai muito além de ter dois tipos de objeto.

A sexualidade humana não é bi, ela é múltipla, pois pode ter infinitos objetos, porquanto infinitas são também as variações possíveis do nosso desejo.

Resumo da ópera: não somos todos bisexuais, somos todos multisexuais.

Voce vê como diante disso, ter preconceito sexual não faz mais o menor sentido!

Além do mais, para Lacan, para chegarmos a ser adultos, temos que realizar a tarefa de significar o que é sexo para cada um de nós. Com nuances e variações infinitas na maneira de gozar sexualmente (aí sim, o gozo genital).

Tem aquele cara que se sente atraído por mulheres viris, ou, ao contrário, pelas muito delicadas. Tem aquele que gosta das que se mostram delicadas, mas no fundo são viris. E os que gostam de travestis, mulheres com corpos femininos, mas o membro sexual masculino para entrar na dança também, coisa que uma mulher, simplesmente mulher, não vai poder lhe oferecer, caso seja esse o seu barato.

Tem mulheres com o maior tesão em homens com as mãos grandes, as que adoram peito cabeludo, outras que odeiam etc… etc… Falando apenas de gostos mais gerais, mas, e quando os traços que suscitam o nosso desejo chegam a detalhes mais pormenorizados? O encontro pode ser mesmo muito difícil! Quer dizer, no sexo, nas formas que cada um tem para gozar, as variações são infinitas.

Enfim, diante disso tudo, falar que alguém é hetero ou homo (sexual) é muito pouco para definir a sexualidade humana, não é mesmo?


Artigo originalmente publicado no jornal O Popular, em 31 de março de 2011.

Este post tem um comentário

  1. Alexandre.

    Olá,gostei muito do tópico abordado,e com certeza,no que se refere a sexualidade humana,estes esteriótipos tais como;Hétero,Bi,ou Homo,são extremamente ridículos,haja visto que existe infinitos graus de variações na sexualidade em particular de cada ser,e isto,sem levar em conta que nossa alma,ou seja,nosso espírito não tem sexo!

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