Serial Killer: quem é o próximo?

“Poderia ser eu, mas agora estou a salvo. Ele já está preso. Agora estamos todos seguros.”

Tenho presenciado, como aliás é o costume, a inquietação, olhos abertos procurando ver melhor, a boca trocando informações. Comentários rolando daqui e dali.Rostos preocupados, surpresos e assustados. Todos os matizes estão presentes. Querem ler, querem saber dos detalhes, querem entender. Para quê?

Para fofocar e falar irresponsavelmente sobre uma novidade palpitante? Não.

Para que então? Para tentar se proteger.

Seria masoquismo? Não. Freud chamou isso de “neurose pós-traumática”. Ao invés de fugir das imagens e dos pensamentos que provocaram a dor,  o sujeito os revive de novo e de novo na tentativa de dominá-los.

Mas, como num círculo vicioso, a ideia de buscar a superação retornando à cena – para procurar as saídas – geralmente termina em mais aprisionamento.

Sim, o interesse suscitado pelas informações do “serial killer” que foi descoberto é, ele também, uma tentativa de retorno  às cenas, de análise dos detalhes, compreensão dos porquês. E isso tudo para quê?

Para tentar nos pôr em segurança. A segurança de saber quais os motivos que levaram àquele ato destruidor e para, com isso, “descobrir-nos” fora do grupo de risco.

Quando não entendemos a razão pela qual aquele que até ontem era um cidadão comum, trabalhando todos os dias, cumprimentando as pessoas, namorando, vivendo como todos nós, matou, nos sentimos no risco do desconhecido.

Claro que as coisas acontecem por algum motivo, mesmo que jamais venhamos a saber dele.  Um furacão se forma por condições atmosféricas definidas e nem por isso podemos antever exatamente todos os detalhes de seu caminho destruidor. O imponderável faz mesmo parte de nossa condição humana.

Entre o “eu não quero saber de nada, já que a vida vai me levar de qualquer jeito para onde ela quiser” e o “eu quero saber de tudo para que não aconteça o mesmo comigo”, existe uma enorme distância.

Saber de todos os detalhes para poder dizer baixinho ao pé do seu ouvidinho que aquilo não vai acontecer com você também não é muito eficaz. Se fosse, a quantidade enorme de pessoas que querem saber dos porquês para se colocarem fora da área de risco viveria tranquila e feliz.

Mas, não. A cada nova tragédia, recomeça a corrida aos fatos para se reiterar que, desta vez, se está fora, são e salvo de mais uma tragédia lá fora.

Estar fora de uma tragédia a cada vez que ela ronda as nossas imediações é um alívio, é claro. Quando digo que buscar saber o que a provocou para nos proteger não tem a eficácia pretendida é porque o imprevisível, o diferente, o impensável, sempre vai existir.

Circunscrever o fato aterrorizante como estando fora de nós não acalma nossa alma. Haverá sempre motivos e motivos para as loucuras humanas – algumas compreensíveis, outras não. Não é a tentativa de previsão que vai nos proteger.

A proteção mais eficaz seria viver de corpo presente. Sabia que, quando não estamos com os circuitos ocupados com muita informação e emoções acumuladas, o nosso inconsciente – que é muito poderoso – nos mostra muita coisa que o eu, viciado em ver o mesmo, não vê?

O que pode nos proteger é habitar o nosso próprio corpo e não buscar desesperadamente saber o que é ameaçador (no geral) para fugirmos do perigo. O perigo também tem contexto para se fazer presente. Envolver-se por demais com a tragédia do outro é deixar nossa casinha sem cuidado enquanto estamos lá examinando por que a casa do outro foi arrombada.

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