Poder sem saber

Quem são os donos do poder hoje?

Os ricos, os políticos, os intelectuais?

Quem arrisca uma resposta?

Ah! Já sei: os três. Afinal sempre foi assim, de alguma maneira as “elites” sempre comandaram.

E a classe média, em uma determinada altura da história, não começou a ter poder?

Sim, porque na sociedade de consumo aquele que consome as mercadorias acabou tendo um tanto de poder, exatamente por decidir para que mão iria o seu suado salariozinho nas múltiplas compras de cada mês.

Mas hoje as classes C e D também têm seu poder de compra, como afirmou de forma bem-humorada a filósofa Viviane Mosé em brilhante palestra ministrada recentemente no “Café de Ideias” do Centro Cultural Oscar Niemeyer: “Gente, hoje o mercado de consumo está atrás de pobre. Cadê os pobres? Onde é que tem pobre? Porque a classe média já têm dentro de suas casas tudo e muito mais. São os pobres, com seus pequenos salários, a nova faixa de interesse do mercado”.

Então, agora pobre também tem um poder que, antes, nem pensar.

Rico sempre teve poder. Rico é quem tem dinheiro. Hoje quem tem dinheiro não precisa tê-lo em grandes quantidades. Basta ter um salário (maior ou menor) todo mês que lhe permita se tornar um consumidor assíduo.

O “salário nosso de cada mês” dá o poder do dinheiro. A maioria – que se encontra nessa condição – não pode reclamar que não tem o poder do dinheiro.

Vamos para o segundo item do que confere poder: o conhecimento. Há uma gigantesca disseminação de saber pelo mundo, na internet e em outros meios. A oferta de informação é imediata, rápida e abrangente.

Quantas conversas são momentaneamente interrompidas por alguma dúvida quando alguém vai “ver no Google” do que se trata e, de posse do novo saber, prossegue o papo.

Aliás, paro um pouquinho e “vou ver no Google” os significados da palavra “político” para tentar achar um viés novo. Sai a definição: “(…) relativo aos cidadãos e aos negócios públicos”. E público, o que é mesmo? “Pertencente ao povo, à população, que serve para uso de todos”.

Ora pois, se somos cidadãos, somos políticos.

Temos também o poder do político?

Responda você mesmo. Será que você tem o poder do dinheiro – se é você quem decide o que compra com o seu rico dinheirinho, sagradinho de todo mês? E o poder do saber (cada vez mais à disposição de qualquer cidadão comum que não morra de preguiça de ir atrás)? E o poder de, sendo cidadão comum, ser uma presença política no mundo, juntando-se com os que comungam do mesmo pensamento e passando a ter o poder de ser muitos, o que hoje é cada vez mais possível: juntar-se sem a intermediação das instituições que decidiam quem saberia do quê. Os flash mobs e outros estão aí para provar.

Poder de comprar, poder de saber, poder de decidir, todos eles nós temos e cada vez mais.

Resta a pergunta: será que sabemos disso?

Uma segunda pergunta: será que sabemos usar isso que já é nosso?*

 

Pela primeira vez na história da humanidade, o ser humano é dotado do poder de destruir todo o planeta.Temos grandes e pequenos poderes. Podemos quase tudo, mas o que vale a pena e o que não vale? Quando e onde dizer não?

Começemos a usar bem os pequenos poderes que temos no dia-a-dia e que somados, se tornam grandes. Eles definirão em que mundo viveremos.

Para quem não acredita muito nessa possibilidade cito o escritor norte-americano Malcolm Gladwell autor do livro The tipping point: How little things can make a big difference, “O ponto de inflexão: como pequenas coisas podem fazer uma grande diferença.” Lembrando que inflexão é modificação de sentido, de rumo.

Essa é uma realidade cristalizada? Não, essa é uma tendência brotando. Cuidemos dela para que cresça e frutifique.

Este post tem 2 comentários

  1. Maria Helena Ferreira

    Luciene, que ótima mensagem! Quantos tem o poder em suas mãos e ainda não sabem?

  2. Minha avó dizia de grão em grão a galinha enche o papo. Sua neta “inflexiona” :de escolha em escolha nos apoderamos de sermos mais plenos e felizes…

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