Magia é o incomum, o inexplicável, o indizível. Uma emoção que nos toma quando temos a sensibilidade de nos deixar levar. Porém, não nos esqueçamos de que é o nosso olhar/interpretação que nos diz o que é magia para nós a cada vez que ela mostra a cara.
Sim, porque, se mostra a cara e não é vista, ela, é claro, não existe.
O pensamento mágico, por sua vez, tão parecido como expressão, é uma atitude de passividade diante dos fatos. É querer algo a qualquer custo, principalmente ao custo de negar a realidade. É o recurso inoperante que as crianças lançam mão para não perder algo que supõem terem tido. O pensamento mágico é uma fábrica de frustrações.
Ele nada mais é do que a tentativa de restaurar um estado de onipotência. Um período da vida em que a criança ainda não se dá conta das contingências da vida: da morte, da perda, da fraqueza. Pode tudo. Nada faz limite.
Ser capaz de viver a vida com magia é se deixar encantar pela vida em si. Pelas artes, sim, pela poesia, mas também pelos pequenos milagres que ocorrem a cada momento, como, por exemplo, quando nos lembramos que o nosso frágil coraçãozinho – um músculo, um simples músculo, no frigir do ovos – não é de aço nem de titânio; está ali, em nosso peito, batendo sem parar há anos ou décadas. Sem descanso, sem manutenção preventiva, dia e noite sem descanso. É um milagre!
É magia respirar, é magia ter os olhos úmidos, simplesmente lubrificados ou completamente inundados por lágrimas de felicidade. Ou de tristeza, sabendo que passarão e que depois você constatará que foi capaz de superar e crescer.
Magia é olhar dentro dos olhos das pessoas e ver o que tem lá dentro. Ver quem é o morador daquela casa e convidá-lo para participar de sua vida e sua história.
Magia é paixão e fascínio a ponto de se arrepiar de emoção. Barriga gelada de susto, sorriso solto, gargalhada de puro prazer e contentamento.
Pensamento mágico, ao contrário, é a garantia de uma vida pobre, improdutiva, baseada na negação dos desafios que nos convidam a ultrapassá-los.
Ultrapassar o quê? Se para o onipotente não existe sua própria fragilidade, a dos outros também não. Todos somos super-heróis que não falhamos jamais.
Sabe aquela historinha da criança que bate a perninha na cama e o adulto corre e bate na cama dizendo: “Cama boba, cama boba, bateu no Joãzinho”? Pronto, salvou a autoestima do pequerrucho. A cama é que errou, ele jamais.
Pensamento mágico é acreditar em poderes sobrenaturais da maneira mais ingênua e disfarçada. Como, por exemplo, negar a conexão entre causa e consequência.
O pequeno super-herói de 20, 30, 50 ou 60 anos tem uma total incapacidade de ligar causa e efeito. É um paradoxo, pois, ele sendo onipotente e, por definição, tudo podendo, não pode nada. Ao não assumir a administração de sua vida abre mão de ter poder sobre ela.
A lógica é clara. Não sou nunca eu que faço, portanto sou incapaz. Quem fez é o que é potente. Eu só sou um dedo apontando para o outro, pedindo cuidado e cobrando ajuda.
Magia enche a vida de pó de pirilim pim pim.
Pensamento mágico nos enche de raiva e fracasso.
Magia está na vida de quem faz, se expõe, se joga em seus projetos e suas apostas, correndo riscos e colhendo os resultados.
Pensamento mágico é o material que constitui a vida dos covardes que usam o corpo do outro para projetarem o que não querem assumir e acabam colhendo vazio, insatisfação, sofrimento.
É, mas pelo menos sentem que têm um ganho, pensam que a culpa das imperfeições não é deles. É dos outros.
Coitadinhos! Não descobriram ainda com Nietzsche que esse mundo imperfeito é que é o nosso. A transcendência não está no além perfeito. É aqui mesmo que está o que de precioso temos.
Sustentar uma vida com magia nada tem a ver com pensamento mágico.