O que significa viver na hipermodernidade

Prestando uma homenagem especial aos membros da Academia Feminina de Letras e Artes de Goiás, que me ouviram recentemente sobre o tema.

 

O ser humano necessita se localizar no tempo e no espaço. Compreender um pouco o momento histórico no qual estamos vivendo pode nos dar uma bússola, ou melhor dizendo, um GPS.

 

Ih! Já começaram as diferenças. Estamos num mundo de GPS, bússola já passou.

 

Estamos numa nova organização sócio- político-ecônomico-afetiva em que termos como pós-modernidade já não mais descrevem a nossa realidade.

 

É o sociólogo Gilles Lipovetsky que denomina essa nossa era de hipermodernidade.

 

O que seria característico da hipermodernidade? A globalização – o mundo todo interligado pela troca rápida de informações – e a queda dos ideais, das certezas do certo e errado que as gerações antigas passavam para as novas, são duas as principais características.

 

Para compreendermos como chegamos aqui, vamos a um pouquinho de história.

 

Na Antiguidade, a civilização grega, por exemplo, se organizava por um modelo que se espelhava na natureza (cosmos) e na sua forma “perfeita” de mundo, com regras fixas e justas e lugares marcados: artesão , guerreiro, senhor…

 

Num segundo momento, na Idade Média, a humanidade guiava-se por um modelo religioso. O “céu” nos orientava naquilo que deveríamos buscar. Também com lugares marcados. Quem nasceu nobre o era para sempre, plebeu idem.

 

Num terceiro momento, veio a revolução que criou as condições para uma outra, a nossa atual. Foi a revolução da razão, um tipo de humanismo (o homem é colocado no centro) em que a explicação religiosa deixou de ser o suporte para se “entender” tudo no mundo e foi substituída pela capacidade do ser humano de raciocinar e dominar tecnicamente a natureza e as ameaças diversas à vida humana.

 

Porém, o uso da razão se mostrou insuficiente para explicar e ajudar o homem a viver. Muito se fez, mas nos séculos 19 e 20 veio a “Era da Desconstrução”, da qual Freud fez parte por dizer que a razão não salvaria o homem de si mesmo. Que o ser humano não sabe quem é, que a nossa vida afetivo-emocional nos transcende, não a alcançamos, não a dominamos.

 

Ou seja, chegamos à Era em que o lado emocional dos seres humanos está no foco, ganhou lugar e relevância. E isso chega às relações de trabalho. Empresas bem sucedidas são as que cada vez mais valorizam a subjetividade – leia-se: a criatividade de seus funcionários.

 

A obediência cega e burra já não é o valor mais buscado e sim a capacidade de inventar, propor e fazer andar.

 

Nas relações em rede, onde todos têm acesso à informação, o jeito único de cada um juntar as informações e achar saídas inusitadas passa a ter muito mais valor. Muitas vezes o próprio valor da sobrevivência da empresa. Por essa razão, as diferenças, ao invés de darem medo – da mudança, da destruição –, são as promessas de respostas criativas revigoradoras e sustentadoras em um mundo de mudanças rápidas e constantes.

 

Isso que estamos vivendo, uma abertura para a aceitação e valorização da “unicalidade” de cada um, as boas-vindas dadas à diferença, ao singular, à criatividade e às emoções como parte essencial em nossas vidas, é chamado de Segundo Humanismo.

 

Enquanto o Primeiro Humanismo considerava o ser humano em sua parte de razão, o Segundo Humanismo adiciona à razão a nossa porção de emoção, aceita a força que o desejo tem em nossas vidas.

 

Desejo que, mesmo funcionando de forma camuflada na maioria das vezes, acaba sendo a razão maior que determina nossas escolhas e modos de ser.

 

É um mundo das muitas escolhas, feitas não porque o outro aprova, mas porque você quer e, portanto, vai bancá-las. Vão ser seus tanto a dor quanto o prazer.

 

É um mundo no qual a obediência é suplantada pela inventividade. Estamos inventando um novo mundo.

 

Quem viver verá.

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