O que se faz na velhice?


O filme Um divã para dois, com Meryl Streep e Tommy Lee Jones nos conta uma história com final improvável. Uma vovó com cara de vovó que não se conformou em deixar de ser mulher.
O filme poderia passar despercebido se não nos trouxesse, mais um vivo exemplo de uma tendência nesse nosso mundo hipermoderno: a de tomar caminhos inusitados para situações antes marcadas por respostas esteriotipadas.
Ficar velho significava se preparar para a morte, caminhar rumo ao cemitério podendo desejar, no máximo, o privilégio de ter “uma boa morte”.
O filme nos mostra, no entanto, uma mulher velha querendo viver o começo de uma nova vida. E se dissermos que esse projeto incluía mudar o seu casamento-morto com um marido- morto, em um novo casamento, aí a tarefa parece impossível, não é mesmo?
Dizemos na psicanálise do século XXI que a velhice é um dos nomes da morte. Nossa cultura nos presenteia com vários deles tais como: a doença ou as perdas que são formas de nos levar forçosamente a acreditar que só temos aquele caminho a seguir e o mal é que nos resignamos a ele e não vemos que existem certamente outros rumos e outras respostas.
Aquela velhinha do filme quer se casar de novo ao invés de se resignar e ao final parece uma jovenzinha de 20 anos de idade vivendo numa praia a sua fantasia sonhada com o seu príncipe encantado – que era um sapo- lhe dizendo o que todas as mulheres desejariam ouvir do homem amado.
Claro que ela não só sonhou a mudança, mas foi tenazmente atrás dela.
Se você não olhasse as imagens do filme diria que aquela era uma jovem mocinha que não se conforma em não ser feliz no casamento e busca, de todas as formas – seduzindo, conversando, buscando ajuda – viver o seu sonho. Ela continua a buscar coisas das quais já deveria ter desistido. Afinal, já teve o seu quinhão. E ela ainda quer romantismo. Que horror! Isso não é coisa para velhos.
Quer dizer que prazer sexual, alegria, risos, novos sonhos e sua realização são coisas de gente jovem? Para os velhos doença, solidão, dores várias e queixas de tudo?
Bobo de quem continuar a acreditar nisso! Enquanto a morte não chega tem muita coisa para ser feita. Coisas de peso, de valor ou de sonho, pouco importa. A vida só deve acabar quando acabar. Não vamos chamar a morte antes do fim porque assim vamos vivê-lo 10 ou 20 anos antes que ele de fato chegue.
O que se faz na velhice? Não se vive esperando a morte chegar. Vive-se tudo o que for possível, da mesma forma que se faz na juventude.


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  1. Para quem tem mais de 65 anos
    Ivone Boechat (autora)
    1 – Tome posse da maturidade. A longevidade é uma bênção! Comemore! Ser maduro é um privilégio; é a última etapa da sua vida e se você acha que não soube viver as outras, não perca tempo, viva muito bem esta. Não fique falando toda hora: “estou velho”. Velho é coisa enguiçada. Idade não é pretexto para ninguém ficar velho. Engane a você mesmo sobre a sua idade, porque os psicólogos dizem que se vive de acordo com a idade declarada!
    2 – Perdoe a você antes de perdoar os outros. Se você falhou, pediu perdão? Deus já o perdoou e não se lembra mais. Mas você fica remoendo o passado… Não se importe com o julgamento dos outros. Só há dois times no Universo: o do Salvador e o do acusador. Neste último você sabe quem é goleiro. Continue no time do Salvador.
    3 – Viva com inteligência todo o seu tempo. Viva a sua vida, não a do seu marido, dos filhos, dos netos, dos parentes, dos vizinhos… Nem viva só pra eles, viva pra você também. Isto se chama amor próprio, aquilo que você sacrificou sempre! Nunca viva em função dos outros. Faça o seu projeto de vida!
    4 – Coma muito menos; durma o suficiente; não fique o dia inteiro, dormindo, dando desculpa de velhice. Tenha disciplina. Fale com muita sabedoria. Discipline sua voz: nem metálica, nem baixinha; seja agradável!
    5 – Poupe seus familiares e amigos das memórias do passado. Valorize o que foi bom. Experiências caóticas, traumas, fobias, neuroses, devem ser tratadas com o psicoterapeuta. Não transforme poltrona em divã, ouvido em descarga.
    6 – Não aborreça ninguém com o relatório das suas viagens. Elas são interessantes só pra quem viaja. Ninguém aguenta ouvir os relatórios e ver fotografias horas e horas. Comente apenas o destino e a duração da viagem, se alguém perguntar. Aprenda a fazer uma síntese de tudo, a não ser que seus amigos peçam mais detalhes. Se alguém perguntar mais alguma coisa, seja breve.
    7 – Escolha bons médicos. Não se automedique. Não há nada mais irritante do que um idoso metido a receitar remédio pra tudo o que o outro sente. Faça uma faxina na sua farmácia doméstica.
    8 – Não arrisque cirurgias plásticas rejuvenescedoras. Elas têm prazo curto de duração. A chance de você ficar mais feio é altíssima e a de ficar mais jovem é fugaz. Faça exercícios faciais. Socorra os músculos da sua face. Tome no mínimo oito copos de água por dia e o sol da manhã é indispensável. O crime não compensa, mas o creme compensa!
    9 – Use seu dinheiro com critério. Gaste em coisas importantes e evite economizar tanto com você. Tudo o que se economizar com você será para quem? No dia em que você morrer, vai ser uma feira de Caruaru na sua casa. Vão carregar tudo. Não darão valor a nada daquilo que você valorizou tanto: enfeites, penduricalhos, livros antigos, roupas usadas, bijuterias cafonas, ouro velho… prataria preta, troféus encardidos, placas de homenagens. Por que não doar as roupas, abrir um brechó ou vender todas as suas bugigangas, apurar um bom dinheiro e viajar?
    10 – A maturidade não lhe dá o direito de ser mal educado. Nada de encher o prato na casa dos outros ou no self-service (com os outros pagando); falar de boca cheia, ou palitar os dentes na mesa de refeições (insuportável).
    11 – Só masque chiclete sem testemunhas. Não corra o risco de acharem que você já está ruminando ou falando sozinho.
    12 – Aposentadoria não significa ociosidade. Você deve arranjar alguma ocupação interessante e que lhe dê prazer. Trabalhar traz muitas vantagens para a saúde mental, além do dinheiro extra para gastar, também com você.
    13 – Cuidado com a nostalgia e o otimismo. Pessoas amargas e tristes são chatíssimas, as alegres demais, também. Elogie os amigos, não fique exigindo explicações de tudo. Amigo é amigo.
    14 – Leia. Ainda há tempo para gostar de aprender. A maturidade pode lhe trazer sabedoria. Coloque-se no grupo sempre pronto para aprender. Não se apresente em lugar nenhum dizendo: sou muito experiente!
    15 – Não acredite nas pessoas que dizem que não tem nada demais o idoso usar roupas de jovens, cuidado. Vista-se bem, mas com discrição. Cuidado com a maquiagem, se for pesada, você vai ficar horrível.
    16 – Seja avó do seus netos, não a mãe nem a babá. Por isso nem pense em educá-los ou comprometer todo o seu tempo com as tarefas chatas de ir buscar na escola, levar a festinhas, natação, inglês, vôlei… Só nas emergências. Cuidado com aquela disponibilidade que torna os outros irresponsáveis.
    17 – Se alguém perguntar como vão seus netos, não precisa contar tuuuuuuuudo! Evite discorrer sobre a beleza rara e a inteligência excepcional deles. Cuidado com a idolatria de neto e o abandono dos filhos casados…
    18 – Não seja uma sogra chata. Nunca peça relatório de nada. Seu filho tem a família dele. Você agora é parente! Nunca, nunca, nunca mesmo, visite seus filhos sem que seja convidado. Se o filho ligar pra você, não diga: ah! lembrou finalmente da sua mãe? É melhor dizer: Deus o abençoe meu filho.
    19 – Cuidado em atender ao telefone: se a pessoa perguntar como você vai e você responder “estou levando a vida como Deus quer”; “a vida é dura”; “estou preparando a partida”; “estou vencendo a dureza”; você vai ver que as ligações dos amigos e dos parentes vão rarear, cada vez mais.
    20 – A maturidade é o auge da vida, porque você tem idade, juízo, experiência, tempo e capacidade para se relacionar melhor com as pessoas. Então delete do seu computador mental o vírus da inveja, do orgulho, da vaidade, promiscuidades, cobranças, coisas pequenas e frustrantes para tomar posse de tudo o que você sempre sonhou: a felicidade.
    Extraído do livro Educação-a força mágica de Ivone Boechat

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