O pequi e outros frutos de Goiás

Garanto que tem muita gente pensando que vou falar de gabiroba, araticum ou mangaba.

 

Poderia. São nossos frutos queridos do cerrado, que nos trazem sabores só nossos e doces lembranças de nossa infância.

 

No entanto, foi o encontro com um jovem artista goiano que me fez pensar em outro tipo de fruto da terra. Nos frutos-gente que Goiás já produziu e que perdemos muito se não provamos ainda do seu sabor.

 

Pois é, dia desses, numa sala vip do programa de TV “Sobre Todas as Coisas”, onde convidados normalmente esperam para entrarem em cena, aconteceu para mim a descoberta de mais um fruto goiano.

 

Eu esperava um “violeiro” que seria um dos entrevistados. A palavra violeiro suscitava em mim uma imagem de um senhor de uns 60 anos de idade, que seria o padrão de alguém ligado a uma tradição da roça, dos povoados, não muito amiga das grandes cidades.

 

Mas nada disso e muito pelo contrário. Entra pela porta um lindo e jovem rapaz, com um sorriso aberto para o mundo e olhos cheiros de doçura e simpatia. Energia boa, a marca dos verdadeiros artistas. Nos cumprimenta e a sala se enche de sua presença.

 

Carregava uma caixa que ele rapidamente abre e retira de dentro a sua viola. Senta-se e começa a dedilhar Bach. Somos invadidos de doce serenidade.

 

De repente, seu rosto se transfigura, tomando um jeito matreiro. Ele abre um sorriso nos avisando que lá vem surpresa e pula da música clássica para o som vigoroso e cadenciado da catira.

 

Nós, goianos da gema que estávamos lá, pulamos nas cadeiras, atingidos em nossa emoção com gosto de infância. Ele, com a generosidade característica da alma de artista, deleita-se com a emoção que provoca a partir de seus dedos na viola.

 

Tivemos a nossa festa prévia de um programa que discorreria sobre o tema “Emoções”. Já estávamos no clima.

 

Pois esse jovem fruto da terra não é um violeiro que arranha a viola, não, senhor. Tem uma formação surpreendentemente consistente. Digo isso porque violeiros não costumam fazer a faculdade de música. Mas esse se formou na Universidade Federal de Goiás.

 

Ele nos presenteia com um livro que tem por título “A Viola” e, desbunde total, o subtítulo é: “Digitação de Escalas maiores e Menores na afinação Cebolão em Mi Maior e Sistema ECsA”. Coisa séria e de qualidade. Tocou em Londres e em Paris, mas formou-se no amor pelas Folias de Reis, uma das paixões que cultiva até hoje.

 

Compõe músicas, além de tocar, e toca não só a viola mas também o coração das pessoas que o ouvem e o veem. Resplandesce algo bom que eu chamo de Amor de Artista. Essa coisa que eles têm de querer transmitir aos outros a riqueza que carregam dentro do peito.

 

E isso faz o mundo ficar melhor.

 

Preocupa-se com os valores que passa nas letras que compõe. Sabe que é uma figura identificatória para os jovens e adolescentes e cuida com carinho do que transmite para as novas gerações – de violeitos. Que beleza!

 

Ele é a transmissão viva de nossas tradições goianas que permanecerão e crescerão pela existência de pessoas como ele.

 

Que presente é para Goiás ter um fruto como esse.

 

Um fruto do cerrado que produz suas sementes e sai jogando em terras daqui e dalém, e que ao nascerem e crescerem não deixarão morrer nossos valores culturais de raiz.

 

Frutos goianos como Almir Pessoa devem ser colhidos, degustados e as suas sementes jogadas por todos nós nas terras vizinhas para encher o mundo da felicidade da música, e particularmente da que é nossa, de Goiás, com nossa cara.

 

É isso que estou fazendo nesse momento: espalhando em vocês as sementes do fruto da terra Almir Pessoa.

 

 

Valorizem, experimentem, usufruam, espalhem também as sementes de nossa cultura goiana.

 

Este post tem um comentário

  1. Marcia Sahb

    Parabéns Luciene! Belo artigo! Vamos sim valorizar os frutos de nossa terra!! Foi um enorme prazer conhecer tão talentoso artista naquela sala vip a espera de programa com um tema Emocões….. Grd Abç!

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