Veja bem que não estou dizendo que o mundo tinha que ser para as crianças, ou pelas crianças, mas de crianças.
E os adultos deveriam morrer todos?
Um mundo com as montanhas de chocolate e nuvens de algodão doce. Folhas e flores de confeitos. Areia de batatas fritas. Cães voadores, peixes andando sobre o chão.
O mundo de não crescidos loucamente surfando no pensamento mágico tornado real.
Seria mesmo isso o ser criança do qual falo?
De jeito nenhum.
Não falo dos infantilóides.
Falo daqueles que cresceram, se libertaram do outro e podem reivindicar o direito a maioridade infantil.
Crianças que cresceram e permanecem crianças são aquelas pessoas perto das quais nos sentimos vivos, porque ela respira o não convencional ela tem uma autenticidade uma diferença que nos surpreende. Não diz o esperado, diz o revelador de cada momento.
Já notaram como as crianças têm um pendor por quererem melhorar o mundo, gostam de respeitar o que sentem que é certo e não aceitam o que é injusto e mentiroso? Pois bem, o adulto que atingiu a maioridade infantil também é assim. É uma luz de criatividade e de renovação no mundo.
Sempre acreditei que cada ser humano que nasce é para todos nós uma esperança de um mundo melhor porque, no seu início de vida ele vai ter tantos sonhos – que quando for adulto terá abandonado por ter passado por tantos sofrimentos.
Crianças nascem da barriga da mãe, mas também de um adulto feito. Sim, um adulto pode renascer criança quando para de querer atender o que se espera dele e começa a conquistar o que deseja para si. Aí ele tem o caminho para se tornar uma criança feliz. Feliz por ser cheia de entusiasmo e energia por ter descoberto que a vida é muito boa para quem a vive sem o medo da desaprovação. A infelicidade é termos vergonha do que somos pelo fato de não sermos perfeitos como pensamos que o outro nos quer.
Um mundo cheio de gente que vive sua singularidade e se une em torno de um laço social, um laço de amor que não necessita da igualdade para ser lícito é um mundo de gente, se não feliz, pelo menos não tão infeliz como se vê por aí.
São as pessoas infelizes que têm covardia, inveja e disputa. Agridem porque estão colocando pra fora o horror que têm dentro de si. O horror de existir para as convenções.
Acho que podemos dizer que um adulto feliz é uma criança.
O mundo merece ser habitado por crianças.
Certamente não me refiro aos seres humanos que não tem nenhuma razão para serem felizes, os que passam fome que não têm acesso a saúde e educação , ao direito de sonhar e realizar seus sonhos. Essas pessoas não têm sequer o primeiro passo para conseguir crescer para depois virarem adultos-crianças.
A conquista das condições para todo ser humano ter escolhas a fazer pode ser alcançada mais facilmente se o movimento for feito por adultos felizes que têm potência e boa intenção, já que não precisam comer o fígado do outro para conquistar um lugar.
Gente infeliz não faz mudanças para o outro, mas só para se locupletar.
Quem está bem quer espalhar amor, bem estar pelo mundo afora.
O frescor que a criança tem para ver os sentidos convencionais nos joga a cada momento numa descoberta prazerosa de algo inesperado. Aí a vida fica mais cheia de sentidos, caminhos e possibilidades de usufruto.
O mundo merece adultos que conseguiram não serem vencidos pelas dificuldades e permanecem com os olhos brilhantes, olhando tudo como um mundo mágico, que é o milagre de existir – é mágico ter vindo de um óvulo e de um espermatozoide, é mágico viver no planeta Azul, é mágico amar as pessoas, ter o sol, sentir o vento… inventar novas vidas.
O mundo merece ser habitado só por crianças … de todas as idades.