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O meu segundo batismo

No batismo nos dão um nome para levarmos conosco, nos representando, pela vida inteira. É assim, simplesmente.

 

É mesmo? Não necessariamente!

 

Eu tive um segundo batismo. Recebi um segundo nome e a perspectiva de uma segunda vida. São sempre perspectivas o que os nomes nos abrem.

 

Viver uma outra história é o sonho de muitos, como, por exemplo, a personagem Madame Bovary, de Flaubert, que literalmente se mata numa luta inglória sem alcançar o seu sonho.

 

Há cerca de três décadas encontrei um amor, um Novo Amor. Assim mesmo com maiúscula, como hoje teorizamos na psicanálise do século 21: uma nova forma de nos relacionarmos com o outro que não passa por regras e padrões.

 

Pois foi essa pessoa que se ligou a mim num novo laço de homem e mulher, é verdade, mas também de amante/incentivador/festejador e inventor de uma relação não inimiga, não disputadora, que nas primeiras horas que me conheceu me deu meu novo nome de batismo, dizendo: “Você é tão anticonvencional!”.

 

Escutei surpresa e atentamente. Coloquei o merecido peso àquela declaração e ali eu nasci de novo para uma nova vida!

 

Senti com profunda emoção que aquilo falava de mim. Dizia quem eu era.

 

A partir daquele momento, construí, tendo a consciência que dantes não havia tido, toda uma segunda vida à minha maneira. Como canta Frank Sinatra: “I did it my way” – eu fiz do meu jeito.

 

O Novo Amor que preconiza a psicanálise do século 21 é esse amor capaz de reconhecer o que de mais seu cada um tem. Ela também fala da participação e ajuda que nosso amado pode ter para que consigamos ter a coragem de mostrar ao mundo quem de fato somos.

 

Não é um amor que nos encaixota para o uso daquele que acha que nos adquiriu com uma aliança, com o seu carinho ou sua dedicação.

 

Nenhum de nós tem preço. Nada pode nos comprar. Cada um de nós é algo único no mundo. Não dá para saber o preço de algo sem comparação.

 

O quanto vale uma tela de Van Gogh? E uma de Picasso? Elas têm certamente um valor.

 

O quanto vale a obra de arte que é você?

 

Você não tem preço. Não se deixe encaixotar. Você não é sabonete. Nem nenhuma mercadoria que tenha sido feita em série.

 

Descubram, se possível, com o seu/sua amado/a, numa relação de Novo Amor, os seus novos nomes. Os nomes que definem melhor a pessoa na qual você se tornou. O que você fez daquela criancinha que na pia batismal recebeu o seu primeiro nome.

 

Que muitos nomes sobrevenham!

 

Eu, de anticonvencional, saltei para corajosa, inventiva, apaixonada pela vida e pelas pessoas. E, sei, muitos outros nomes ainda virão até o dia de minha morte.

 

Você pode pensar: “É, mas essa aí teve sorte. Achou alguém bacana”.

 

Mas não foi simplesmente o outro que me deu tudo isso. Tem o outro lado da questão que é o que cabe a quem recebe. Tem muita gente que nem vê que recebeu. Que nem vê que pessoa generosa ela teve ao seu lado e continua recitando a mesma ladainha de que todos falham com ela, que sempre dá e não recebe… e blá, blá, blá, como foi o caso da mulher que me antecedeu na vida do meu Novo Amor de três décadas.

 

Fui eu que fiz muita coisa com o presente que o outro me deu. Fui eu quem valorizou e multiplicou o presente que, em si, poderia ter sido jogado no lixo.

 

Não fique esperando o príncipe encantado nem a “mummy-poderosa” virem realizar os seus sonhos. A varinha de condão, e ela existe, é um objeto interno, informo aos desavisados. Ela está dentro de você.

 

Abra as gavetas velhas e esvazie-as, enfrente os seus fantasmas que exigem obediência, pare de bancar a vítima de quem te criou. Agindo assim, você vai achar sua varinha de potência para cuidar bem dos seus interesses.

 

Dê e receba novos nomes para você, ao invés de ficar sofrendo pelos que você recebeu e não gostou.

 

Passe sua vida tendo mais e mais nomes.

 

É muito mais rico e divertido!

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