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O importante é que emoções eu vivi…

Rejane Soares Ferreira

            Que a emoção faz parte da vida, todos nós sabemos! Será? Comecei a colocar isso em questão… Um questionamento que pode parecer estranho, mas que evoca a reflexão sobre o quão, de fato, as pessoas se aproximam do seu estado emocional. Parece que o mundo concreto, repleto de fatos, de construções, de produções em série, se esquiva da emoção.

Mas ai de quem acha que a tal da emoção foi pra lá… Ela continua aqui, fazendo parte, permeando a gente o tempo todo!

Hoje acolher a emoção é mais necessário do que reconhecê-la ou dizer que a reconhece… O problema é que, por décadas e décadas, esse negócio de emoção, de sentimento, de vida afetiva, tudo isso era papo de mulher, de pessoas que podiam perder tempo na vida pensando nessas bobagens. O cerne da vida estava na razão, nos números elucidativos, na dureza dos esforços explicativos que subsidiavam a retidão humana.

Pois então, essa tremenda falha em escantear a emoção faz com que a própria se faça valer de outra forma: pressão alta, dores físicas, insônia, obesidade, abuso de álcool, diabetes, falhas cognitivas, doenças cardíacas, câncer… Sem escândalo! As tendências genéticas indicam sim muitas formas de adoecimento, mas a influência do estado emocional é inegável!

Não é raro se deparar com pessoas que dificilmente colocam em seu vocabulário um “eu sinto”. São mais frequentes o “eu penso”, “eu percebo”, “eu vejo”… Uma prioridade racional exagerada. A questão é parar de encarar a vida com uma racionalidade inflexível que não se justifica mais! Aliás, a posição racionalista é um tanto quanto emocional!

Não nos enganemos: são nossos sentimentos e nossos desejos que norteiam nossas escolhas… Até as mais “sérias”! É impressionante como nosso desejo de ser amado e nosso medo de não sermos aceitos nos direcionam! Tem gente passando a vida refém desses sentimentos e acreditando ser uma pessoa incrivelmente racional!

Essa visão fugitiva da emoção pode fazer a gente seguir um ideal de eu petrificado na razão, com uma inabilidade enorme para viver um grande amor, se sujeitar aos encantos da vida, perceber valia no que passa batido, aceitar a singularidade das pessoas e as incompletudes da vida.

Fica aqui o convite! Vamos falar sobre o que sentimos e vamos assumir que nossas emoções não se adequam a um padrão específico, tal qual o pensamento pode tentar fazê-lo. A emoção destoa, desregula, encaixa, colori, aflora, norteia… Somos seres emocionais! Tem região cerebral responsável por isso, por exemplo o sistema límbico, ou seja, uma complexa estrutura cerebral que não só elabora o processo subjetivo central da emoção, mas também participa de sua expressão.

Já não é mais surpreendente lermos artigos científicos mostrando as implicações do estado emocional na cognição, na saúde física, no rendimento escolar e laboral. Essa desconexão não se mostra funcional.

A ideia é fazer a emoção se tornar parte! Acolhê-la em casa, no trabalho, na comunidade, na vida social, na saúde física… A arte muito nos ensina sobre isso! Mas o duro é pensar que o dom da arte é para alguns… Bobagem.  Cada um pode se aproximar da sua emoção, sem isso significar que esteja sendo diminuído ou rebaixado. Ao contrário, estaremos em contato com aquilo que podemos chamar de mais autêntico em nós!

As durezas da vida não precisam ofuscar nossos sentimentos. São nossos sentimentos, nossas emoções, que nos libertarão para uma vida melhor! Assumir que somos seres emocionais nos transforma em pessoas que se comprometem a fazer valer a vida! É pelo desejo que mantemos a vida, que mantemos nossos projetos, nossas realizações… Tudo regado a muita emoção!

Rejane Soares Ferreira é neuropsicóloga, psicoterapeuta e professora da PUC-GO.

Este post tem um comentário

  1. Márcia

    Rejane, como vc foi brilhante nesse texto!!!! É bem o q sinto e penso!!! Parabéns pela percepção e capacidade de transpor em palavras!!! Admirável!!! Bjs bjs e para ens de novo!

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