Valéria Belém
Primeiro, tomei a decisão. Coisa bem complicada, por sinal. É mais fácil sonhar, planejar, idealizar… mas decidir, realizar? Isso exige que eu me comprometa com o meu desejo e caminhe para ele. E até suporte olhares de estranhamento perante escolhas que parecem maluquices aos olhos do outro.
Pois foi assim: decidi. Escolhi o lugar, fiz as contas e pensei no quanto iria investir. Dúvidas me atravessaram: como seria? Divertido? Seguro? Não queria arriscar mais que o necessário, mas o elemento surpresa também cai bem em uma jornada.
Levantei da cama. Fui. E lá não pensava no antes nem no depois. Aproveitei cada momento, cada lugar, cada pessoa, cada novidade que se avizinhava. Que felicidade!
Esse parece ser o roteiro de uma viagem de férias para você? Até poderia ser, mas não. Não mesmo. Esse é um relato da vida de todo dia, do amanhecer ao ocaso. Mas parece férias… Por quê?
Pensei falar para você sobre isso, sobre como planejamos passeios deliciosos de dias ou semanas e curtimos os lugares para onde vamos com uma alegria imensa, mas quando se trata da nossa viagem cotidiana não conseguimos ser tão bem-sucedidos em usufruir dela. Na maioria das vezes isso acontece porque simplesmente não estamos lá, no momento verdadeiro, no tempo do agora.
“A nostalgia e a esperança são paixões tristes – porque o ontem não é mais e o amanhã não é ainda”, diz o psicanalista Jorge Forbes. E é isso o que atrapalha nossa felicidade, essas paixões pelo que já foi e pelo que ainda não sei. São como tampões que nos impedem de ver a chuva, o sol, ouvir a música, sentir os cheiros e os sabores do presente.
Quem vive no passado está vagando entre lençóis mofados e caixas empoeiradas – e quem não se livra dele acaba por negligenciar o presente. Preocupar-se com o futuro é como evitar usar aquela taça de cristal pelo medo de que se quebre… O prazer será sempre evitado e você sofrerá para não sofrer (ora, ela pode não se quebrar afinal, e que gostosura será apreciar um bom vinho nela! Ou poderá ficar em cacos e você, ainda assim, terá histórias de noites agradáveis em seu livro da vida).
Quando você viaja para a praia, para uma cidade histórica, para o campo… procura aproveitar cada momento em que está naquele lugar? Arrisca comer coisas diferentes? Falar com pessoas que nunca viu? Realizar desejos há muito acalentados? Quer experimentar a tirolesa, subir 550 degraus, mergulhar entre animais marinhos? Me atrevo a responder que a maioria das pessoas aproveita tanto, mas tanto, o passeio, faz tantas coisas inusitadas, que volta exausta (e feliz) para casa. Até mesmo as coisas ruins que acontecem (sim, elas também vêm) se tornam motivos de boas risadas – e aprendizado.
Difícil imaginar alguém sentado na praia, olhando para o mar e pensando: “Acho que não vou entrar na água porque na semana que vem não vou ter mais esse marzão para curtir.” O contrário é mais verossímil: “Nossa, vou ficar nessa água até a noite cair. Quero aproveitar até o último momento!”
Gostaria que a partir de agora você pensasse na sua vida, no seu dia a dia, como uma viagem. Pois é o que ela é. Viagem é movimento, vida é movimento. O contrário disso é repetição, é morte. Quando decidimos viver o hoje, fazemos um investimento, corremos riscos, mas estamos vivos. Então, meu desafio para você é aproveitar o seu dia até o último minuto. E fazer o mesmo ao acordar amanhã. Vamos lá, você consegue. #fériastododia
Originalmente publicado no blog Mundo Psi, da Revista Zelo, em 20/03/2017