Escolha a si mesmo


Andreia de Paula
Tem muita gente parada num mundo de muitas escolhas. É estranho, mas, com tantas opções, ficamos nos sentindo travados, sem saber para onde ir e o que fazer com tantas coisas.
Atualmente, existem diversas opções para cada produto ou serviço. E aí? O que escolher? Se escolhermos aquela, perdemos a outra; então, escolhemos todas e ficamos sem saber o que temos nas mãos. Aí enfiamos tudo na primeira gaveta que encontramos pela frente até o momento em que já não temos mais gavetas e começamos a espalhar pelo resto da casa ou do escritório.
O resto da casa ou do escritório tem alguns limites, mas o corpo e a mente nem sempre. Tudo isso que adquirimos na tentativa de resolver alguma coisa na vida vira entulho se não soubermos o que fazer com elas. Elas viram um bolo de sensações estranhas e confusas no corpo e na mente. E, na maioria das vezes em que adquirimos algo, não temos a solução para o que queríamos nem no tempo certo. Tudo é muito rápido, podemos ir à internet ou ao shopping e adquirir tudo outra vez. Como a sensação de vazio se estabelece outra vez, colocamos de lado o que acabamos de comprar e começamos tudo de novo.
Na ânsia de nos sentirmos melhores, mais valorizados e mais realizados, ficamos vazios e ao mesmo tempo sufocados por tantas ofertas. É um paradoxo. É um peso que não percebemos que estamos carregando. Será que teremos de voltar ao tempo antigo em que era tudo mais fácil? Não seria possível.
Podemos fazer muita coisa com o que já temos, e principalmente com o que já somos, e assim conquistarmos o mundo. Esse mundo dentro e em torno de nós, esse que já vínhamos tentando conquistar. Mas ainda estamos presos a soluções externas e acreditando que elas vão nos salvar.
Se você é dos que acreditam que as muitas soluções externas vão salvá-lo, continue a acumular produtos, títulos, faculdades, mestrados e a infinidade de serviços que são oferecidos pelo mercado.
Diariamente, aparecem diversos produtos e serviços que prometem melhorar nossas vidas, as livrarias estão cheias de receitas e muitas são boas mesmo. O problema é comprarmos mais desses e acharmos que eles o farão por nós.
Infelizmente, ainda vivemos na ditadura do olhar do outro. Aquele olhar do qual esperamos aprovação, consentimento para que nos sintamos adequados ao lugar que é nosso. A cada dia acumulamos mais objetos ou títulos para termos a certeza de que as pessoas importantes de nossa vida vão nos reconhecer. Assim vivemos numa busca sem limites tentando agradar a muitos: pais, chefes, professores, filhos… E nós mesmos ficamos perdidos e insaciados pelas ofertas do mercado. Como me disse uma analisante, ficamos parecendo pobres que ganham na loteria e não sabem o que fazer com o dinheiro.
Estamos vivendo um momento em que estamos ricos e vivendo como miseráveis.
Na tentativa de estarmos prontos, perdemos, ou melhor, deixamos de usufruir do que já está em nossas mãos. Deixamos de nos apreciar, de ver nossos atributos, não degustamos nossas construções. Vivemos imersos e afogados na ditadura do tudo posso adquirir.
A vida não tem fórmula mágica. Já estamos preparados, a vida já está sendo vivida. E por que não podemos viver melhor e nos sentirmos mais felizes? Podemos começar a fazer o que já sabemos e deixar de esperar pelo dia em que tivermos e soubermos usar as ferramentas corretas.
Por isso estou dizendo: já temos muito para sermos realizados, precisamos começar a usufruir de quem somos e do que temos. Isso é que o século 21 espera e precisa de nós, que tenhamos a coragem de ser quem somos. Ter a coragem de mostrarmos ao mundo que somos o que somos. Com as nossas coisas boas ou ruins é que temos a trocar com o mundo a nossa volta.
 
Andreia de Paula é psicanalista e personal organizer


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