Chego ao aeroporto de Goiânia para depositar a bagagem e faço contato visual com a última pessoa no fim da fila. Nossos olhos se cruzam, o sorriso brota em seguida e em segundos dois rostos iluminados se encontram em franca comunicação.
Eu pergunto meio jocosa: “Esta é a fila dos ‘premium’? Mas eu não sou ‘premium’, não tenho privilégios. Só que não tem outra, então vai essa mesmo”.
E ela, sorrindo, sem perder o timing da piada responde: “Tem, sim. Nós temos o privilégio de termos passado pela pandemia e estarmos vivas, bem e viajando”.
Levantei as mãos, ela também e espocou no ar o som do aplauso de duas palmas vindas de dois corpos diferentes que pareciam um só naquele momento. Daí engatamos em uma gostosa conversa que durou os 10 minutos necessários para que a fila circunvoluntória fosse minguando até que, nos abraçamos e ela foi para o guichê dela e eu para o meu.
Nos separamos as duas com novos circuitos de informações em nossos cérebros, trocas afetivas, profissionais, divertidas, sérias, úteis, enriquecedoras. Saímos maiores, mais ricas, mais felizes.
De outra vez, aqui também em Goiânia, eu aguardava uma amiga na área de desembarque, virei de lado e… ligação imediata! Começamos a falar da espera para ver pessoas queridas que pode ser tão gostosa e terminamos trocando receitas de bolo de mandioca, numa intimidade grande não vista como possível em um espaço tão curto de tempo.
E as histórias de banheiro, então! Em São Paulo desta vez, estou eu escovando os dentes, com minha mochila sobre a pia, tentando desajeitada e inutilmente puxar o papel toalha. Uma senhora que acaba de entrar e ver aquela cena esdrúxula fala brincando: “Eita dificuldade!”, e imediatamente me ajuda girando o botão lateral. O papel cai na minha mão e eu digo brincando: “Você salvou minha pele!”. Nos despedimos as duas rindo ruidosamente, felizes da vida.
No Brasil isso é normal!
Por que?
Quem responde é um motorista de taxi muito inteligente que me levou do Aeroporto Charles de Gaulle até o centro de Paris.
É que eu adoro bater papo com motoristas de taxi. Para mim eles conhecem a alma das cidades, são pontos de convergência da diversidade humana.
Ele vai me falando que cada nacionalidade tem modos de agir que que as caracteriza e imediatamente recita uma lista com suas impressões de cada povo.
Eu o pego no contrapé quando pergunto de chofre: “E nós os brasileiros, o que nos caracteriza?”
Ele estacou alguns segundos, sério, de repente abre um sorriso e diz com voz forte, quase gritando, como um arauto: “Brasileiro se conecta!!!”. O que me deixou indizivelmente feliz.
A capacidade comunicacional é característica muito requerida no século 21! E nós a temos para dar e vender!
É! Brasileiro é assim!
Somos seres conectantes!
___
Publicado originalmente no jornal O Popular em 25 de setembro de 2023.