Luciene Godoy //
Os mais espertos sabem que não funciona.
Muita gente deixou de acreditar no diálogo porque descobriu que ele só gera mais mal entendido.
Vou começar contando uma historia de minha amiga que, diante da exigência do filhinho de 5 anos de idade que queria o bolo de aniversário só para ele, respondeu: “Ótimo, aí você vai comer sozinho, cantar o parabéns sozinho, brincar sozinho. Vai ser muuuiiito divertido!” O filhinho, com cara de espanto, percebeu o quão sem graça seria a sua festa de aniversário sem ninguém.
Acho que acontece o mesmo com quem não sabe dialogar, que só pensa em se defender do que o outro lhe diz ou tenta impor cegamente a sua própria opinião: vive sua festa sozinho.
Ouvi de alguém recentemente que há um novo jeito de conversar.
Tomara, porque as pessoas não sabem, não querem, não conseguem escutar. E o diálogo começa do escutar.
Só querem falar, falar, falar e, assim fazendo, só conseguem perder uma das melhores coisas da vida. Ficam relegados a uma pobreza eterna porque, para ter repertório e coisas interessantes a dizer, é preciso ter ouvido. Perdem a possibilidade de ter um mundo interior cheio de ideias e interpretações pelo simples fato de não terem ouvido bastante.
Ouvir muito nos torna muito mais ricos. Não só ricos como adoráveis, queridos, apreciados por levarmos o outro em conta e com isso as relações ficam tão mais… gostosas.
Já pararam para pensar que num diálogo dizemos coisas que só surgem quando estamos conversando com outra pessoa? O conhecimento que se produz num diálogo é muito diferente do que produziríamos se deixados sempre por nossa própria conta.
Existe um bate-bola, com estímulos vindos de ambos os lados que redirecionam o pensamento de cada um produzindo um resultado inédito em relação ao que cada um sabia e pensava.
Dialogar é perceber o outro.
Entre casais, então, o diálogo é o material mais raro que existe. Ali, sim, um não consegue escutar o outro. Cada qual usa todas as suas forças, argumentos, gritos e uivos, mas nada muda o outro. Porque o que se busca é mudar o outro e não cuidar da própria vida, até porque muito do que pensamos ser do outro são nossas próprias questões.
São casais que vivem juntos sem aprender um com o outro, sem nem ao menos saber quem é o outro. Pessoas que os amigos ou os colegas amam, admiram e nos quais veem muitas qualidades, mas que dentro de casa são verdadeiros cabides de defeitos. Cada qual vai chegando e dependurando mais uma falha. As duas partes têm a ver com esse eterno desencontro, a completa inexistência de dialogo dentro das relações mais chegadas.
Será por acaso? Qual é a nossa parte nisso tudo?
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Artigo originalmente publicado no jornal O Popular em 3 de junho de 2012.