É meio demais falar que os pais precisam aguentar as pancadas dos filhos para que eles cresçam. Assusta né? Parece até masoquismo!
Bem, talvez fique mais digerível se ao invés de falar “aguentar” dissermos “redirecionar” a agressividade dos filhos. Porque ela virá de qualquer forma.
Se ajudar os filhos a crescerem – biológica e emocionalmente – é uma das funções dos pais, dentre elas se coloca ajudá-los a aprender a aplicar e manejar a agressividade, parte tão essencial na administração da vida.
Essa necessidade vai aflorar com mais força em dois momentos do crescimento humano: ao fim do 1º ano de vida e na adolescência.
No primeiro momento o que se passa é o “teste de realidade” no qual a criança bate na mãe esperando uma reação que confirmará a existência da mesma. Seria o teste realidade versus alucinação. O que é requerido da mãe é que não seja destruída. É que permaneça após o ataque. A criança testou a sua potência, mas não destruiu o outro.
Na adolescência o ataque vem por outro motivo: a não aceitação da realidade do mundo adulto que começa a ser percebido como cheio de imperfeições, falhas, inconsistências e injustiças. As faltas assustam aquela criança virando adulto.
Antes ela acreditava que o mundo fosse coerente, que médico curava, professor ensinava. Agora ela começa a ver que quem existe para curar pode também matar, que aquele que está no mundo para ensinar pode até mesmo emburrecer. Como aceitar que o paraíso não existe? Que o mundo adulto perfeito, que ela quando criança esperava habitar, é cheio de furos que a deixam insegura e perdida?
E os pais então. São os primeiros dos quais os filhos enxergam os defeitos e agridem.
Aí o que os pais fazem com as agressões? Se vitimizam e reclamam o tempo todo do desrespeito do filho, ou se agarram em permanecer sustentando o discurso de que não erram, de que sabem o que é melhor para os filhos. Tentam esconder suas falhas achando que pais não podem mostrar fraqueza, mas, agindo desse modo, só conseguirão manter o mundo da fantasia infantil.
Nem ser vítima, nem ser perfeito. Redirecionar a agressividade mostrando que, por imperfeito que seja, o ser humano é também bonito e capaz. Que as falhas são a nossa condição e não a exceção.
Pais bem sucedidos podem ensinar, por exemplo, que a agressividade pode ser uma força usada para construir nos buracos das faltas e não como uma negação das imperfeições.
E isso já será muito!
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Artigo originalmente publicado no jornal O Popular em 8 de dezembro de 2011.
Isso sim é uma aula de função paterna,na pós modernidade!