“Esse foi um negócio de pai para filho.” Frase muitas vezes proferida por quem quer expressar que alguém ajudou outra pessoa de forma tão evidente, tão forte e diferenciada que só um pai faria pelo próprio filho.
Me peguei pensando sobre o que descreveria uma relação de amor de um filho para com seu pai de forma tão amorosa e cuidadosa quanto.
O que um filho poderia dar como um grande e inesquecível presente para o pai no dia em que desejar comemorar o seu bem sucedido (será que isso existe?) papel de pai? Ah! Está aí a resposta: o maior presente que um filho pode dar ao seu pai é mostrar que ele, o pai, foi bem sucedido como pai.
Se isso (o tal pai bem sucedido no papael de pai) existe mesmo, quais seriam as evidências?
Pai bem sucedido é aquele que conseguiu – com todos os percalços e dificuldades, alegrias e preocupações, acertos e erros – criar um filho que foi para a vida viver e aprender.
Pai bem sucedido é aquele cujo filho por ele criado tem algo para lhe ensinar.
Sim, é isso mesmo o que estou dizendo: pai bem sucedido é o que tem um filho com o qual pode aprender. Que não permanece a vida toda como o senhor da verdade para um filho obediente, acovardado diante dos desafios da vida e impotente. Dependente de um Pai Todo Poderoso que não é aquele que está no céu, mas um Rei Leão que não deixa suas crias crescerem.
Não pense você, pai, que seu papel hoje na pós-modernidade é fazer de conta que sabe tudo e que nunca erra para seus filhos “não perderem o respeito”. Isso era no seu tempo de ser filho. Hoje, no seu tempo de ser pai, o ser pai mudou de conceito, exatamente porque os tempos mudaram.
O que tem valor e constrói hoje não é mais o mesmo tipo de atitude que tinham nossos pais e que, no contexto de sua época, estava correto. Num mundo padronizado, pai bom era pai que fazia cumprir as regras e reproduzir o padrão. Sem culpados. Cada época produz seus ideais de comportamento.
Estamos numa época em que o que se pede das relações com os pais é outra coisa. Não mais que seja o dono da verdade, que será contestada e desmascarada na próxima esquina por alguém que também tem o poder de saber. Aliás, papai de hoje, não tenha medo de não saber, pois o que você não souber o seu filho pode descobrir , inventar, criar. E será dele o mérito e a segurança adquiridos. Que melhor presente pode ser, nas palavras do psicanalista françês Jacques Lacan para definir o amor, “dar o que não se tem”?
Para Lacan, amar é dar o que não se tem. É oferecer ao outro sua falta, sua falha. E a falha, meu querido, é o terreno que – por estar vazio – pode receber as sementes novas que germinarão e produzirão as novas árvores e os novos frutos de uma outra vida que é a dos nossos filhos. O entulho do “eu sei tudo” impede as novas brotações.
Cena de filme ilustradora de pais (mães incluídas, é claro) que hoje são bons pais, quer dizer, bons parceiros de vida: a filha, aproveitando-se da ausência anunciada dos pais, resolve usar o chalé de inverno para hospedar três clientes para um curso intensivo de coaching. Um contratempo na viagem dos pais os traz de volta. Ao entrarem em casa e perceberem a “armação”, começam a fazer de conta diante dos clientes e do chefe da filha que são dois outros clientes marcados para o curso.
A partir daí, todo tipo de situações cômicas são vividas pelos três cúmplices. Sim, porque os pais se tornaram cúmplices da manobra não ortodoxa da filha para crescer na carreira, e, ao invés de censurá-la por ter se apossado da casa, assumem a posição de companheiros de luta e avalizam a escolha da filha, construindo com ela uma solução inusitada.
Pais que podem aprender com os filhos, que podem viajar em suas histórias como felizes coadjuvantes e não os donos da bola, são os pais bem sucedidos.
Muito Bom o texto. Só queria saber que filme é esse que foi citado. Alguém sabe??