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Nosso mundo não tem bússola

Estamos todos perdidos, não acreditamos nas instituições, os ideais caíram e estamos num mundo que não se pauta mais pelo “isso é certo e aquilo é errado”.  É o caos?

“Essa história de não tem certo e errado é meio demais. Não é bem assim”, diria muita gente.

Mas tanta coisa que há bem pouco tempo era impensável se torna, hoje, parte de nossas vidas, sem drama. Ouvimos muito a frase: “Cada qual pode buscar o que lhe faz feliz. Se não prejudica o outro, por que não?”

Sim, é isso: a globalização gera novas matrizes de conhecimento, novos pontos referentes de significação – tantos mundos se encontrando em tantos meios de comunicação. Por isso mesmo podemos conviver com tantos matizes de possibilidades e de escolhas.

Sim, é isso: estamos no século 21, na hipermodernidade, num mundo sem as garantias do conhecimento do mundo padronizado onde seguir, respeitar e obedecer eram suficientes para nos sentirmos guiados por uma bússola confiável.

Agora estamos “desbussolados”, para usar uma expressão criada por Jorge Forbes, psicanalista que teoriza a psicanálise para a pós-modernidade e que hoje, em visita a Goiânia, fala no Café de Ideias do Centro Cultural Oscar Niemeyer. Seu tema: “Como viver na globalização”.

É ele quem afirma que a nossa vida hoje é um contrato de risco, num mundo menos garantido e mais criativo.

Se a palavra de ordem hoje não é pertencer a um grupo de iguais sendo igual e nem tampouco ser rebelde ou o oposto do que o grupo propõe, então onde podemos nos posicionar?

Antes, ou estávamos dentro ou estávamos fora. A globalização quebra essa ideia de mundo de fora e mundo de dentro e isso repercute em minúcias de nossa vida cotidiana.

Hoje, o que está em questão é se responsabilizar por ocupar o “seu” lugar em relação ao que lhe concerne em cada momento, funcionando como um GPS, você mesmo marcando suas posições em cada contexto.

O que vai nos guiar não é mais uma ética universal, que vale para todos, e até mesmo por isso passível de ser driblada por outros tantos. Aqui falo de uma ética pessoal, singular, mas em nenhum momento menos forte e determinante do que a ética padrão para todos.

É estar pronto para decidir, agir, propor e/ou inventar em cada acontecimento, em cada surpresa que lhe pede uma resposta.

Não funciona mais dizer diante do acaso: “É porque fulano não fez isso, não me ajudou, não se importa, não cumpre o que prometeu”. Meu amigo, minha amiga, no frigir dos ovos o que é seu é com você mesmo/a. Se o outro “teria” que ter feito e não fez, ainda assim é você que vai pagar o pato. Melhor fazer, portanto, porque ninguém vai viver por você. Ninguém vai sentir a sua dor nem o seu prazer.

É essa a ideia central do que pode nos posicionar numa sociedade organizada como a nossa. Não espere nem siga cegamente as receitas prontas para cada situação. Procure o seu jeito, ache o que serve para você. A roupa que serve para vestir a nossa alma nós não encontraremos nas butiques. São fabricadas pela junção que vamos fazendo de tudo o que, para cada um de nós, tem valor e importância.

É nossa responsabilidade fazer a coleção, fazer a colheita do que nos interessa no mundo, e construir o nosso cotidiano. É também a nossa responsabilidade, por outro lado, inventar uma satisfação pessoal e passá-la no mundo, para que não estejamos numa ilha deserta.

Responsabilizar-se não é pesado e cansativo como pode parecer. É, isso sim, ter potência, e ter potência é exatamente o que torna a vida mais leve e prazerosa.

Fica o convite para todos os que queiram ouvir Jorge Forbes, hoje, a partir das 19h30, compartilhar conosco suas reflexões sobre as mudanças –  e as novas respostas – no amor, na educação, no trabalho e na política.

Este post tem um comentário

  1. MARIA HELENA FERREIRA

    Querida Luciene, concordo totalmente com a matéria, uma vez que estou “Desbussolada” desde que nasci, pois sempre busco o que me faz feliz sem prejudicar ninguém. Beijos!

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