Estamos no clima. Nas festas de fim de ano é hora da família brilhar. Hora da confraternização, de se mostrar que no mundo tem união, tem “amor em família”.
Claro que temos outras expressões como “luto em família”, que já mostra o lado triste de um sofrimento conjunto, compartilhado entre os seus membros.
Entre as festas e o sofrimento proponho um outro tipo de movimento “em família”. Alguém já ouviu falar de “namoro em família”? Pois é, existe.
Dando uma olhada nos dicionários, eu que os adoro constato que, curiosamente, a lista é exígua, deixa a desejar. Parece que namorar é um verbo que está pedindo para a gente ampliar em muito o seu uso e sentido. Só por enquanto, está dando para o gasto. No futuro será uma palavra muito mais requisitada e usada!
Mas, vamos ao trabalho. Além dos tão conhecidos “galantear” e “fazer a corte”, a definição que melhor apresenta a ideia é:
‘Namorar é procurar inspirar amor a alguém”.
O namorado seria aquela pessoa que exibe um comportamento de delicadeza. Que se ocupa em mostrar que ama.
Galantear, que também faz parte do conjunto “namoro”, é um modo amoroso de falar, de demonstrar atenções e finezas com quem se quer agradar.
Namorar para mim vai muito mais longe. São olhares cheios de brilho, profundidade e cumplicidade. São sorrisos que dizem de nosso prazer em ver o outro e estar junto. Namorar são pequenos toques no corpo e na alma que demonstram o valor e a importância que aquela pessoa tem para nós.
Por outro lado, qual é o oposto de namorado? Você não vai acreditar, mas é: adversário. Gente! O oposto de namorado é adversário, inimigo. Significado surpreendente!
Mas é isso mesmo! Nas relações mais próximas, por causa da nossa formação narcísica, no espelho que é o outro, na proximidade do dia a dia, ele se transforma facilmente em inimigo.
É justamente por essa grande proximidade que as pessoas que vivem “em família”, ou seja, em grupo, deixam tão facilmente de se namorar e começam a “se estranhar”.
Mas já tem gente conseguindo namorar em família. Recentemente, uma analisante mãe de uma moça entrou sorrindo, mostrando a foto de um belo arranjo floral que havia feito e se dado ao trabalho de fotografá-lo para enviar à filha de manhã cedinho com a frase: “Para você. Tenha um ótimo dia!”.
A filha respondeu: “Liiiiindo! Obrigada”. Eu, então, perguntei à mãe: “Você sabe o que estava fazendo com sua filha?” Ela me olhou com olhos curiosos e eu mesma respondi: “Namorando. Você estava namorando com sua filha”.
Dias depois, outra mãe, também com o rosto feliz, entrou afirmando que tinha “caído a ficha” de que mandava frases bonitas e carinhosas para os amigos, mas nunca tinha pensado em fazer o mesmo com os filhos adolescentes. Começou a escrever-lhes frases elogiosas, amorosas e celebrativas. As suas relações se adocicaram de maneira surpreendente.
Para não ficar só no “mamãe, papai, vovó te ama”, temos infinitas maneiras de adubarmos nosso namoro com nossos “amados” em família – e não só com palavras. Paremos de adubar nossas relações com produtos ácidos, grosseiros e rudes. Vamos parar de conversar só sobre problemas e dificuldades e ter “conversas de namorados”. Aquelas em que nos surpreendemos em descobrir novas facetas de quem pensamos conhecer.
Desconfie do “eu já sei muito bem como ele/ela é”. Sabe não. Bola de cristal que força a barra só ajuda a doença da repetição a se instalar em sua vida.
Pense na possibilidade de “namorar em família”, de trocar doces palavras sem mais nem porquê. Apenas porque você ama e quer demostrar isso com o carinho de suas palavras e seus atos.
Transforme o deserto em namoro, a irritação e a cobrança em prazeroso compartilhar de vida.
Duvida? Comece o namoro e verá a diferença.
Luciene quanto mais eu leio seus artigos, mais aprendo sobre a Psicanálise. Parabéns!