Valéria Ávilla
Caso eu tivesse 50 anos, mesmo num período libertador – o auge das bandas nacionais de rock dos anos 80 – ainda seria uma cinquentona. Como o mundo melhorou muito, hoje sou uma cinquentete: Eu? Otimista? Vejamos.
Àquela época, era filiada ao PT, PV e ainda mais fiel ao PPC – Partido dos Pessimistas de Carteirinha. Certificados por grandes filósofos, como Schopenhauer e uma má leitura de Nietzsche, inconformados revolucionavam o mundo. Meu poema preferido era Tabacaria, de Álvaro de Campos – o álter ego pessimista de Fernando Pessoa: “Não sou nada. Nunca serei nada. Não posso querer ser nada.” – Como ele havia me descrito antes de eu nascer? Ser pessimista? Éramos nós que movíamos o mundo. Orgulhosa de mim e de meus comparsas quase era feliz! Quase… Faltava um pouco, um tantinho abismal.
Então, comecei a trabalhar. “Um colega mais velho me adotou, e ouvia conselhos sérios:” Isso vai dar errado, você vai ver. Fulano vai puxar seu tapete, cuidado! Não converse sobre tais assuntos. Ali você vai perder dinheiro”. Vivia confortada por essas advertências desconfortáveis. Anos se passaram e ele foi obrigado a tirar longas férias, há muito vencidas. Afinal, um pessimista não precisa de férias, para quê? É tudo uma droga mesmo. “ Mas e agora? – me afligi – quem iria me avisar dos perigos?” Resultado? Meu humor melhorou muito, e a ansiedade quase desapareceu. Desamparada e feliz? Muito estranho… Quando ele retornou, é que percebi que as tragédias anunciadas de fato aconteciam mesmo, como uma profecia, mas na vida dele, e não na minha. Dizer que meu amigo era amargo, um derrotado? Nem tanto. Ele conseguiu construir muitas coisas na vida, fazer boas amizades, mas agora entendo que ele poderia ter ido além e com menos sofrimento.
Após um tanto de análise, inadvertidamente, folheava poesias e reencontrei Tabacaria. Que susto delicioso! Nada me dizia. Terrível! Saí pela porta de Tabacaria e o dia reluzia em promessas. Nomeei-me otimista – avessa aos pessimistas. Afinal, reclamando não fazem nada de objetivamente bom, nem para terceiros, nem para eles mesmos, umas hienas: “Oh dia! Oh morte!”.
Bem, ainda não me atinava para o risco dos opostos. Hoje vejo que os extremos são o meio do caminho para podermos aprender a bandear nessa estrada, de um ponto ao outro quando a situação exigir.
Indo além do Tejo, me tornei realista quando também me decepcionei com os otimistas. Lembrei-me de uma amiga da família que minha mãe acolheu em nossa casa. Dispunha-se sempre a ser um ombro: “Tudo vai dar certo, as coisas vão melhorar, você vai conseguir, não se irrite, não se aborreça, tenha esperança!” – não agia para mudar sua vida e seguia com essa “conversinha hospitaleira”, se servindo de sua hóspede. Otimista sim, mas uma parasita.
Nessa estrada há muita gente. O pessimista que critica o tempo todo fazendo piadas sarcásticas, ironias criativas e não realiza nada. O otimista, que de tão bon vivant, em nenhum momento é solidário e não reconhece os riscos, e o realista que é pessimista ou otimista quando lhe favorece.
Parece-me que quem não constrói mesmo são os parasitas. Todos podem melhorar o mundo. O pessimista que faz disso um estímulo para fazer melhor. O otimista, que alegre, gera mais energia para produzir. O realista que pondera, erra menos e tem sucesso. Embora todos colaborem a minha aposta é que alguns são mais afortunados do que outros. Opto pelo “bando dos danados”- que em qualquer posição escolhe ser feliz. Rir da vida não destrói. Escrever melhora o mundo, ler idem. Aos que me irritaram o bastante para eu escrever esse artigo: Olá parasitas! Grata por terem sido minhas musas inspiradoras hoje. Aos que me leem, grata sempre.
Não há de que “ó musa inspiradora”, Do seu leitor danado de vida e nunca parasita. Um bacio.